sexta-feira, 31 de outubro de 2003

JOSÉ MANUEL RIBEIRO 1

José Manuel Ribeiro escreveu isto no jogo. Parabéns!

Traumatoma
JOSÉ MANUEL RIBEIRO

Enquanto metade do país aguarda que o hematoma de Paulo Paraty atinja os mínimos olímpicos, perdi algum tempo estudar as consequências secretas do atentado, aquelas que, por recear a bota que sobrou a Deco, Paraty não confessa no relatório mas de cuja existência nenhum ser com mais de duas patas para pensar se atreve a pôr em dúvida. Pausa para inspiração. O próprio hematoma, agravado pelo facto de ser um hematoma regulamentar e não um daqueles hematomas marginais como quando trilhamos os testículos no fecho éclair, está apenas nas entrelinhas do relatório, ao que me fez saber fonte contígua à Comissão Disciplinar. Paraty parece querer insinuar que a bota de Deco não lhe fez danos, mas especialistas em linguística terão descoberto umas vírgulas e um ou outro erro ortográfico que alteram a frase. O resultado é qualquer coisa do género "a bota lançada por Deco atingiu-me no baixo-ventre e olhem que não me fez nenhum mano". Haverá uma troca de letras, porque é óbvio que Paraty pretende utilizar o célebre eufemismo 'não me fez nenhum mano', remanescente dos tempos em que engravidar a mãe do próximo era sinal de amizade e até obrigatório em visitas prolongadas, quando não se levava mais nada para oferecer. Examinei as imagens minuciosamente. Reparo que, num acto que pode ser confundido (por mentes pouco sãs) com uma tentativa de agarrar a bota, Paraty procura amortecer o projéctil. No mínimo, partiu o escafóide, que é um osso importantíssimo tanto para os adolescentes como para os árbitros, mas a violência do choque indicia risco sério de peritonite, provocada pela inflamação das paredes abdominais. O intestino endurece, as fezes petrificam. É o que eu chamo ao caso Deco: um problema de merda.

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