sexta-feira, 7 de maio de 2004

Agora no Público... O MST de novo...

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Uma dessas empresas que escapam à mediocridade geral e ao queixume permanente como forma de vida e de justificação da mediocridade própria chama-se FC Porto e é uma ilha de qualidade em Portugal.

Eu sei que tudo o que diga sobre o FC Porto é levado à conta de "facciosismo doentio". Mas vamos a factos: alguém conhece muitos mais exemplos de sucesso, aqui e além-fronteiras, semelhante a este? Alguém conhece muitas empresas portuguesas capazes de se bater em todo o mercado europeu com concorrentes infinitamente mais ricos e poderosos e vencê-los? Alguém conhece muitos produtos que, nas últimas décadas, tenham feito conhecer tanto lá fora o nome de Portugal como a marca FC Porto? E, se já nos habituámos à ideia de que o actual presidente da Câmara do Porto, em lugar de prestar ao clube a homenagem que a cidade tanto lhe deve, sofra na pele com os seus sucessos, nunca conseguirei entender porquê que as grandes empresas do Porto e do Norte persistem em ignorar as parcerias e oportunidades de colaboração que o clube lhes proporciona - como fazem tantas grandes empresas por essa Europa fora.

O FC Porto é um "case study" por duas ordens de razões: pelo sucesso que obtém e pela reacção que esse sucesso gera entre os seus concorrentes nacionais. As razões do sucesso do FC Porto são antigas, tão antigas já que isso torna ainda mais incompreensível que a concorrência, em lugar de se dedicar à inveja e à maledicência, não se dedique a estudá-las e tentar copiá-las. A primeira razão é um presidente dedicado à sua empresa a tempo inteiro e que gere um negócio muito particular e, em certos aspectos, irracional do ponto de vista de gestão, mas que ele domina e conhece a fundo: não gere aquilo como uma empresa de construção civil ou um negócio de representação de automóveis. Depois, gere-o, não por desejo de autopromoção ou acreditação social, mas por genuína paixão - paixão essa que sempre soube transmitir, de cima para baixo, e que explica aquele mistério aparentemente incompreensível de tantos que falham noutros lados ali triunfarem. No FC Porto, todos sentem a obrigação de lutar com paixão e total dedicação pelo clube que lhes paga e com respeito pelos adeptos, que são a razão de ser de tudo aquilo. Um segredo simples, que qualquer empresa bem sucedida conhece: profissionalismo e dedicação à empresa, respeito pelos accionistas.

Têm passado pelo FC Porto das últimas duas décadas "gerações" de treinadores, jogadores, técnicos de diversas áreas, dirigentes, consultores, empresas de auditoria. Sem excepção, todos acabam a dizer que ali nada é deixado ao acaso, nada se faz de improviso, nada se conquista com pouco trabalho e muita vaidade. O "espírito da casa", que sempre tem passado de jogador em jogador, de técnico em técnico, é a outra razão de sucesso. Quem chega sente que acabou de entrar numa empresa altamente profissionalizada, onde nada falta de condições de trabalho, mas onde também o espírito de família, de clube, a tal "mística" que demora gerações a formar, são parte integrante dos processos de trabalho. Assim sendo, não é difícil que todos se entreguem até ao limite das suas capacidades, que sintam a obrigação de retribuir - mesmo que ali estejam apenas de passagem para mais altos voos. Porque, mesmo então, eles sabem que é o clube que lhes pode dar, em troca, a projecção para esses voos. Um só exemplo deste espírito de que falo: todos viram o Derlei jogar na Corunha um jogo inteiro de esforço até ao limite, muito embora ainda só tivesse, para trás, uma hora de jogo nas últimas semanas, depois de quatro meses de recuperação da mais grave doença profissional que pode acontecer a um futebolista: a rotura dos ligamentos cruzados do joelho. Mas, quando ele estava na cama do hospital, à espera de ser operado e sem saber se o resultado da operação lhe permitiria voltar a jogar ao mais alto nível, quando vivia o mais angustiante momento da sua carreira profissional, Pinto da Costa foi visitá-lo e trazia para ele assinar, e nas condições que o jogador tinha pedido antes, a prorrogação do seu contrato.

Para além de Pinto da Costa e da organização interna que ele soube montar, é de elementar justiça reconhecer também que os êxitos destes dois últimos anos se devem também e decisivamente a José Mourinho e à equipa que ele formou. Mourinho não teria triunfado desta maneira sem a organização que encontrou, mas de nada serve um excelente clube se o treinador não presta. E, nos breves anos que leva como treinador principal em Portugal, ele mostrou que estava a anos-luz de todos os seus compatriotas - em capacidade de treino, de preparação, de liderança, de inovação de métodos e de cultura. Também ele é um caso excepcional de profissionalismo entre nós: preparou-se para triunfar, estudou e estagiou quando tinha de o fazer, triunfou em Portugal e logo se preparou para levantar voo para onde os horizontes sejam mais largos ou o desafio ainda mais estimulante. Pouco habituados a ver tal coisa, os medíocres chamaram-lhe ambicioso, como se isso fosse um defeito. Chegou, viu e venceu e hoje tem a Europa a seus pés. Infelizmente, parece mesmo que se vai embora, mas deixará seguramente raízes e escola e é certo que o FC Porto continuará para além dele, como já antes, a ser o melhor clube desportivo português.

Estas são algumas, porventura as principais, razões do sucesso de um clube que acaba de chegar à final da mais importante competição de clubes do mundo e onde tinha à partida e teoricamente uns 30 concorrentes que lhe eram superiores - pelo menos em orçamento e "vedetas". Ora, este clube, que é hoje, como o foi o Benfica dos anos 60, um dos raros motivos de orgulho e de afirmação de Portugal no mundo, é odiado por toda a concorrência interna e desprezado por 60 por cento a 70 por cento dos portugueses. Porque não conseguem imitá-lo, não conseguem vencê-lo, não conseguem que os factos e os resultados confirmem as suas constantes calúnias sobre ele, e, no fim, não conseguem evitar uma inveja que é verdadeiramente característica dos portugueses. E, quanto mais assim reagem, mais asneiras e precipitações cometem e mais o FC Porto vai acumulando vitórias (e não apenas no futebol, mas em todas as modalidades profissionais) e mais se vai afastando para outra galáxia onde não chegam as vozes de burro. "

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