quarta-feira, 28 de abril de 2004

Outra vez ele...

"E viva Abril!
1- Meia-hora antes de soarem as badaladas da meia-noite, assinalando os trinta anos sobre o 25 de Abril, o FC Porto sagrava-se pela 20.ª vez campeão nacional de futebol, fazendo com que, no Porto, os festejos da liberdade se confundissem com os da vitória portista e que, em Lisboa, o fogo de artifício sobre o Tejo se confundisse no meu espírito coma festa do Porto – de onde tinha acabado de regressar. Influenciado pela coincidência dos festejos, dei comigo a pensar na relação histórica entre o 25 de Abril e as vitórias Portistas no futebol.Antesdo25de Abril, parecia-me de todo impossível ver o FC Porto campeão um dia – o Benfica era o clube do «bom povo português» e o Sporting o clube da boa gente do regime. O FC Porto era o parente pobre da província, que fazia ocasionalmente de animador das vitórias dos outros dois. Foi preciso esperar pela libertação e esperar que a Revolução se transformasse em Evolução e a democracia em normalidade, para que o FC Porto chegasse finalmente ao título. De então para cá, nestes vinte e sete anos decorridos, o FC Porto foi campeão quinze vezes – se os outros foram os campeões do antigamente, o FC Porto é, indiscutivelmente, o campeão do período democrático. E, então, perguntarão? Então, nada. Não há conclusões, apenas e decerto uma coincidência.

2- Desta vez, fomos campeões no hotel, tal como Mourinho tinha antecipado. E foi bonito de ver a festa espontânea entre os jogadores e os adeptos e ouvir Mourinho dizer que, naquela noite, podiam beber o que quisessem e deitarem-se às horas que quisessem. Os jogadores também são humanos e ninguém mais do que aqueles tinha direito à festa e, enfim, a uns dias de descontracção. Mas foi também bonito de ver que, se calhar até com alguns ainda de «ressaca», no dia seguinte os jogadores não facilitaram contra o Alverca – em nome do respeito pelas camisolas e pelos adeptos que enchiam o estádio e em nome do respeito pela verdade desportiva da luta no fim da tabela. Um notável exemplo de profissionalismo, desta filosofia de «trabalho é trabalho, cognac é cognac», deste grupo irreproduzível de jogadores. E se o resultado pareceu magro, é porque, de há um mês para cá, as bolas teimam em não entrar nas balizas dos adversários do FC Porto: ou porque eles se defendem com onze dentro da baliza e toda a espécie de antijogo, como fez o Corunha, ou porque as traves substituem vezes de mais os guarda-redes ou também porque o cansaço e a desinspiração cobram a sua factura de final de época.

3- Mas, de qualquer maneira, aí vão nove pontos de avanço sobre o Sporting – os mesmos que, segundo Dias da Cunha na sua peculiar e unilateral matemática, as arbitragens «roubaram» aos leões. E com os quais, acrescentava ele antes da derrota em Leiria, o Sporting iria «largamente à frente do Campeonato». O problema do presidente da SAD do Sporting não é apenas as extraordinárias coisas que diz e que revelam um agudo sentido de verdade e justiça e um carácter de genuíno fair play. É também a infelicidade dos momentos que escolhe para as dizer. Só faltava agora que... não, isso também era demais, era impensável. Imaginar que o «campeão moral da época», depois de uma brilhante passagem pela Taça de Portugal e pela Taça UEFA, viesse ainda a acabar o Campeonato em terceiro lugar, tal como no ano passado, não, isso não cabe na cabeça de ninguém. Seria a última perfídia do «sistema».

4- E, a despropósito: será que vai acabar o Campeonato e vai tudo de férias ou para o Euro sem se saber o resultado do inquérito à camisola rasgada do Rui Jorge? Não terá passado ainda tempo suficiente para que as «esmagadoras provas» apresentadas pelo Sporting permitam chegar à inevitável conclusão?
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