domingo, 4 de janeiro de 2004

MAIS UMA DO JOSÉ MANUEL RIBEIRO

"Dérbi
JOSÉ MANUEL RIBEIRO

A propósito da súbita preocupação para com a irrelevância do Benfica-Sporting e, mais do que isso, com o desinteresse que o FC Porto tem manifestado nesse jogo de especial importância para os desígnios da nação lisboeta - porventura, até do mundo lisboeta ou, quiçá, do próprio universo lisboeta -, lavro aqui o meu protesto de cidadão estrangeiro contra as ignomínias constantes do ranking'2003 de audiências televisivas, ontem dado a conhecer na sua forma definitiva pelo "Público". Onde estão os dérbis lisboetas do ano passado? Que lhes fez esse jornal antipatriota, infiltrado no território por Belmiro de Azevedo, como se sabe ele próprio um cidadão estrangeiro? É que não há sinais de dérbi nos dez programas mais vistos de 2003. Pelo contrário, os portugueses borrifaram-se para os interesses nacionais. Fora a inauguração do novo Estádio da Luz (quarta do ranking), os clubes do país só conseguiram intrometer-se nas audiências quando defrontaram grandes equipas estrangeiras com algum prestígio, como o FC Porto ou a Lázio, e ainda assim atrás de outros confrontos internacionais, o Celtic-FC Porto (recordista em 2003), o Portugal-Brasil e o FC Porto-Real Madrid. Nestas condições, temo pelo êxito mediático do nosso dérbi (posso chamar-lhe nosso? Posso? Posso?). Falta-lhe qualquer coisa para sobreviver. Um estímulo. O segundo lugar na SuperLiga, ou seja, o facto de não valer pevas, parece-me pouco para a importância do melhor jogo do ano, seguido do Norte ao Sul do país, embora só por gente que veja mesmo muito bem. Daqui do Porto, por exemplo, a trezentos quilómetros de distância - e nós sabemos pelo nosso seleccionador lisboeta como isso é longe "prà caramba" -, o dérbi parece pequeno, pequenininho."


In O Jogo de 4 de janeiro de 2003

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