sexta-feira, 23 de janeiro de 2004

JORGE MAIA EM GRANDE

"<strong>Eterno... enquanto dura

Vinicius de Moraes dizia muitas coisas. Acontece à maior parte de nós dizer muitas coisas, especialmente depois de ingerirmos um pouco mais do que a dose nutricionalmente recomendada de álcool, mas Vinicius era um poeta, o que significa que utilizava o álcool como combustível e dizia menos disparates ébrio do que muita gente sóbria. Dizia por exemplo que o amor é eterno enquanto dura. A contradição é apenas aparente e surge nesta coluna a propósito das declarações de José Mourinho que, em entrevista à RTP, sossegou mais de meio país desportivo ao dizer que não renovaria pelo FC Porto por dez anos. Como dizia a minha avó não há mal que sempre dure, nem bem que nunca acabe, um daqueles ditados populares feitos em tamanho universal e versão unisexo para servir a toda a gente. Serve para os portistas, que puderam confirmar uma suspeita que os perseguia desde a última temporada: José Mourinho não vai ficar no FC Porto para sempre, ou seja, não há mesmo bem que nunca acabe. E serve para os outros, que puderam confirmar uma esperança que os iluminava desde a última temporada: José Mourinho não vai ficar no FC Porto para sempre, ou seja, também não há mal que sempre dure.

Ainda assim, como dizia o poeta, o amor é eterno enquanto dura. Enquanto durar o caso de amor entre José Mourinho e o FC Porto, e para já a única certeza é que não vai durar dez anos, os portistas não se podem queixar. Mourinho chegou ao clube a meio de uma das piores temporadas das últimas décadas e fez o clube renascer das cinzas que ficaram no rasto de Octávio Machado. Depois do terceiro lugar de 2001/2002, com uma equipa descaracterizada e desmotivada, os portistas podiam muito bem ter-se preparado para outra travessia do deserto. Em vez disso ganharam tudo o que havia para ganhar, inclusivamente uma equipa. Uma equipa capaz de jogar olhos nos olhos com gigantes como o Milan, o Real Madrid e o Manchester United, capaz de assimilar e potenciar cada reforço que lhe é acrescentado, como ficou provado com os casos recentes de Maciel, Carlos Alberto e Sérgio Conceição e capaz de jogar em casa em qualquer estádio. Se José Mourinho se apaixonar por outro clube, os portistas só podem desejar duas coisas: que seja muito feliz e... que não seja um clube português
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