"Má terapia
A UEFA e os eleitores do melhor treinador do ano puseram em causa a terapia a que Portugal, cuidadosa e diligentemente, tem sujeitado o carácter de Mourinho. Estamos a falar de muitos meses de psicanálise, de censura atenta, de artigos de opinião na forma psicotrópica (ampolas bebíveis) para devolver o treinador do FC Porto ao seu carácter humilde - supondo que algum dia o teve, porque também esse ponto tem sido amplamente discutido, via Imprensa, entre os pais de Mourinho e alguns especialistas na ciência comportamental. Dos outros. As distinções internacionais são contra-indicadas para estes casos, conforme se pode ler na literatura inclusa: "O prémio de melhor treinador da UEFA não deve ser prescrito a grávidas, lactentes e técnicos com o rei na barriga". Os efeitos secundários são terríveis e variados, sobretudo porque Mourinho é um caso agravado, já que chegou a esta popularidade europeia acompanhado pela equipa, cujos méritos são avaliados além fronteiras de maneira superficial, ou seja, forçosamente sem a profundidade que, por cá, nos tem permitido pô-los em causa com uma frequência, se não satisfatória, pelo menos tranquilizadora. Em suma, a unanimidade electrónica do FC Porto explica-se pela falta de informação dos eleitores, que desconhecem, é claro, o papel de figurantes como António Costa, Pedro Proença, João Vilas-Boas ou Bruno Paixão. O que lhes chegou às mãos foram resultados, títulos e bola no estado puro, sem comentários que a traduzam como deve ser, nem legendas que desmontem a conspiração por detrás dos pontapés. Naturalmente, desprovidos de alguém que os guiasse por entre o canavial de mentiras do futebol draconiano ou um psicanalista que lhes falasse previamente do temperamento desagradável de Mourinho, os cibereleitores estrangeiros foram enganados. É o que acontece quando se tem à disposição apenas futebol, sem tradutores qualificados pelo meio. "
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