sexta-feira, 13 de fevereiro de 2004

Jorge O. Bento...

"Contra a demência do consenso

Está na moda e é politicamente correcto apelar ao consenso. Calar as divergências e perfilhar o discurso oficial e corrente. Quem sair desta via e ler por outra cartilha é malvisto e olhado. Eis o espírito salazarento a recuperar a boa forma; desta feita incarnado até em gente que abjura essa linhagem. Quando procuro significados para a substância do consenso salta-me uma torrente deles: estado de torpor e anestesia, mediocridade, indigência e preguiça mental, desídia, demissão, falta de opinião e identidade, conformismo, cobardia, medo, ignorância, oportunismo e unanimismo. Enfim, tudo o que convém a quem tem o poder e às estratégias para o conservar e alargar. É este vento que varre o País de uma ponta à outra, da política ao futebol. Mas eu, inspirado em Voltaire e no seu aviso de que as diferenças são o verdadeiro traço de união, cultivo o dissenso, a divergência e a diversidade. Gosto de dissentir, de sentir de modo diferente, de divergir e discordar e de me desviar do modo cómodo de ver e sentir igual à massa. Essencialmente porque o consenso vigente é falso e hipócrita e ofende a matriz da nossa natureza e dignidade. Também me chocou a morte de Fehér, devido ao contexto que a rodeou. Partilhei a dor que ela gerou. Mas rejeito o seu uso demagógico e mediático, comandado pelos mais escuros fins. Que os adeptos do futebol se excedam na expressão da dor é inimputável; mas é inaceitável que entidades responsáveis não saibam separar a sanidade e a demência. É miserável o comportamento das televisões (honra à Sport TV!). É incrível que o PR alinhe no histerismo das carpideiras com uma mensagem de consternação, que a AR faça um minuto de silêncio e que o líder da bancada do PSD vá ao velório assinar o livro de condolências. Enfim, o País está vazio de causas e problemas sérios e empolgantes. Há outras coisas que a consciência cívica, moral e social não pode deixar de levantar. Imaginemos que vem a público que a saída do atleta do Benfica estava já equacionada e que, só por razões de última hora, é que ainda não estava consumada. Como rotular a invocação patética que fez da tragédia a nação benfiquista? Imaginemos que são divulgados os números do seguro e quanto toca ao empresário, ao Benfica e à família do jogador. Sobrará alguma comoção? Imaginemos ainda que a autópsia vai até às últimas consequências — o que eu não acredito — e revela causas da morte no mínimo inquietantes. Com que cara ficarão o PR, a AR e as outras entidades que alinharam com o populismo? Continuemos. A actuação do árbitro, no jogo que opôs o FCP a uma liga de adversários em Alvalade, mereceu de muitos comentadores e jornalistas a nota máxima. Pudera! Para a corte do centralismo o FCP é um inimigo que urge abater por todos os meios. Por isso há que reunir forças em todos os quadrantes para que o ceptro retorne à capital. Há que reeditar o tempo velho do controlo absoluto de tudo e todos a partir de Lisboa. Osr. Lucílio mostrou mais uma vez que não tem categoria para o Euro-2004, nem para o Campeonato português. Por não saber apitar? Nada disso! Apita conforme as circunstâncias, de resto na linha de árbitros famosos da associação a que pertence. Tal como os seus mestres chegou à cena internacional levado pelo poder setubalense na FPF. Não há outra explicação plausível, mas há quem nos tome por cegos que nem o óbvio conseguem ver. Afinal o crime compensa. Também Liedson foi classificado como o melhor em campo. Conheço o futebolista há muito, das minhas idas ao Brasil. Desde logo reconheci a valia que tem exibido em Portugal. Pelo que a sua conduta vergonhosa no jogo frente ao FCP me surpreendeu inteiramente. Não creio que ela fosse obra apenas sua; tem certamente co-autores. A escola de Alvalade, dentro e fora do campo, está a ganhar fama no mundo do circo. Tem mestres insignes na arte de fazer o mal e a caramunha. Mas o branqueamento não garante a Liedson um futuro radioso. Bem pode ter iniciado a queda no abismo. A ver vamos. Sim, o lance que levou à segunda penalidade dada ao Sporting é um atropelo grosseiro do fair play. Os jogadores do Porto, como lhes competia, estavam junto do adversário lesionado. Ao mandar iniciar o jogo o árbitro devia esperar que eles voltassem ao lugar; não o fez, o que só espanta os ingénuos e incautos. Tal como não o fez o atleta leonino, o que revela a esperteza saloia e a moral desportiva que reinam em Alvalade. Enfim, Lucílio esteve no máximo esplendor, a confirmar que Baptista é nome de percursor que abre e prepara caminhos. Só falta vir o Messias cheio de luz. Sou, pois, solidário com os que rejeitam esta maneira bastarda de ser e estar em Portugal e no futebol. Ser português e Portugal são para mim uma utopia de autenticidade, frontalidade e integridade que é cada vez mais negada pela realidade. O pudor e a vergonha são clandestinos; a luz do dia vai para actores e palhaços medíocres, desonestos e sem carácter. Muito mau para o meu gosto ético."


Assino por baixo,
O Dragão

1 comentário:

Anónimo disse...

e tu de que lado estas gatuno