José Manuel Ribeiro não dorme e nós também não. Aqui vai, com a devida vénia.
"Coerência
JOSÉ MANUEL RIBEIRO
O que me seduz na família do futebol é a coerência. Sabemos sempre o que vem a seguir. Os espanhóis investem contra o árbitro do Portugal-Espanha; sugerem interesses subliminares, dissecam o maquiavelismo da UEFA, desenham os contornos dessa obscura organização a ver se lucram com a anedota - e o que fazem os portugueses? Protestam. Defendem a honestidade dos juízes, denunciam o desrespeito pelos seus jogadores e o clima perigoso que se cria em redor de Anders Frisk; destacam o ridículo da acusação, etc. Poucos países seriam capazes de renegar assim, de um momento para o outro, o hobby nacional. Afinal, a época 2003/2004, como quarenta antes dela, foi dedicada ao ataque à honestidade dos árbitros, à criação de climas perigosos em redor deles, ao desrespeito pelos jogadores e à insistência nalgumas acusações, apesar de ridículas. Ontem, Portugal via discos voadores sempre que olhava para o céu; hoje, só vê balões meteorológicos. A indignação provocada pela histeria de um ou dois espanhóis lamentáveis - não mais do que isso - é mais interessante ainda quando detectada em quem participou numa feira semelhante ainda há poucos meses. É como ver um judeu ortodoxo a comer presunto. Noto especialmente o cuidado com os jogadores, o receio de que se possa pôr em causa a legitimidade das vitórias (eventuais) por detalhes mesquinhos, um cenário que, com certeza, não tinha qualquer aplicação na última SuperLiga, onde nenhuma equipa foi alvo de desrespeito e nenhuma vitória foi menorizada pelos ataques histéricos de pessoas lamentáveis. É por isso que me encanta a coerência do futebol, a forma como se enrola para chegar sempre ao mesmo sítio. O interesse de cada um."
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