quarta-feira, 30 de junho de 2004

A fé!!!

Por José Manuel Ribeiro no Jornal "O Jogo" de ontem...
Achei fantástico quando li e só hoje tive oportunidade de publicar, porque acho que todos merecem ter conhecimento deste comentário!
Aqui vai:

"Sou profundamente religioso. Nunca perco o meu Sabath e pelo menos uma vez por mês sacrifico um recém-nascido, como toda a gente. Acredito que o melhor caminho é o da oração e que qualquer desculpa é boa para rezar, embora na adolescência tenha mantido com o meu confessor discussões teológicas drásticas sobre a inconveniência de fazer pedidos que envolvessem especificamente a Kim Basinger. Para ele, o filme "Nove semanas e meia" simplesmente não teve a mesma espiritualidade, pronto, que se há-de fazer? Desde então, fico-me por pedidos mais rudimentares. Por exemplo, anteontem ia a caminho de casa e dei por mim a rezar para que tivesse sobrado arroz de pato. Como Deus tem a agenda cem por cento preenchida com os jogos de futebol da selecção portuguesa, tive de abrir uma lata de atum. A religião moderna não se compadece com a falta de método. Eu devia era ter feito como o José Veiga. Logo de manhã, telefonava ao Mourinho e perguntava-lhe: "Vai sobrar pato?" Se a resposta fosse sim, porreiro; se fosse não, já sabia que ia comer uma francesinha depois de sair do jornal e levava um Alka-Seltzer no bolso. Segundo Veiga, Mourinho jurou-lhe que havia pato à espera dele no Benfica. "Disse-me que serei campeão na próxima época". Perante esta resposta, é natural que tenha corrido para o Estádio da Luz. O treinador do Chelsea é o que temos de mais parecido com uma divindade. Se fizermos uma sondagem pelos portugueses a perguntar se preferiam ter a Nossa Senhora de Caravaggio na carteira ou o José Mourinho no bolso, qual seria a escolha do leitor? Não vale responder "a carteira do José Mourinho". O que me faz crer no progresso da humanidade são as decisões cada vez mais fundamentadas e inteligentes que se toma: um seleccionador tão crente no trabalho e nos jogadores dele que não pára de falar em rezas, santos e velas; e um novo homem forte do Benfica que só assumiu o projecto depois de o treinador adversário ter previsto - com base num plantel e numa equipa técnica inexistentes - que seria campeão na próxima época. O problema é que a fé move montanhas mas às vezes empanca nos calhaus mais pequenos. "

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