Juízes, júris e carrascos
JORGE MAIA
Não foi preciso muito para a Comissão Disciplinar da Liga ressuscitar a figura dos "processos sumaríssimos". Bastaram 144 jogos, cerca de 216 horas ou, para os mais dados a minudências, 12 960 minutos de futebol à média optimista de 90 por cada jogo das primeiras 16 jornadas do campeonato. Bastou ser um jogador do FC Porto a justificar a aplicação de um "processo sumaríssimo" para que os juizes da Comissão Disciplinar da Liga saltassem da sombra onde se abrigaram durante os últimos meses como se fossem impelidos por molas e acabassem com a amnistia que vigorou desde o arranque do campeonato. Fizeram-no com o estrondo do costume e com o alvo de sempre. Apenas um dia depois de Luís Filipe Vieira e Dias da Cunha terem posto em marcha mais um movimento para a "credibilização" do futebol português, tudo começa rapidamente a ficar muito mais transparente.
Como é evidente, não está em causa a justiça da aplicação de um castigo a McCarthy pela clara e documentada agressão a Danilo no jogo com a Académica. O que está em causa é o critério de aplicação de processos sumaríssimos, um critério que os próprios juizes definem como sendo "subjectivo". Um exemplo? Rochemback deu uma cotovelada a André Barreto aos 19' do jogo entre o Sporting e o Boavista. Os juízes do tribunal de O JOGO garantiram que se tratava de uma agressão, merecedora de cartão vermelho, que o árbitro não puniu, mas os senhores juizes da Comissão de Disciplina acharam que não. E Rochemback continou, impunemente, a jogar. Chama-se a isto subjectividade. Ora, este é apenas um exemplo fácil, imediato, das dezenas de exemplos fáceis e imediatos que preencheram as primeiras 16 jornadas do campeonato e que os juizes do CD não viram ou, subjectivamente, não quiseram ver. Basicamente, a aplicação destes processos sumarentos, perdão, sumaríssimos depende da sensibilidade, temperamento, disposição, quem sabe até da cor clubística do juiz de turno.
Curiosa, mas não surpreendentemente, McCarthy foi o primeiro jogador alvo de um processo sumaríssimo por parte da Comissão Disciplinar da Liga. Uma cotovelada a Beto, no FC Porto-Sporting da última temporada valeu-lhe dois jogos de suspensão e serviu de rastilho para a ruptura entre os dois clubes. O sul-africano não jogou com o Leiria e com o Benfica mas o que pouca gente se recorda é que, algum tempo mais tarde, o Conselho de Justiça da Federação Portuguesa de Futebol deu razão aos argumentos dos portistas, referindo que o jogador se tinha limitado a responder a uma primeira agressão de Beto. A justiça tarda mas não falha... por muito. Certo, certo é que os "sumaríssimos" estão de volta mesmo a tempo de ajudar a desequilibrar um campeonato que simplesmente se recusa a tombar de uma vez por todas para o lado certo.
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