sexta-feira, 14 de janeiro de 2005

ARREIA-LHES, JOSÉ MANUEL RIBEIRO

Honestidade
JOSÉ MANUEL RIBEIRO


Às vezes, um ponto de distância entre duas equipas a dezoito jornadas do final do campeonato pode ser só isso: um ponto. Mas em Portugal, bem poupadinho, chega para uma enormidade de coisas. Esse ponto e a prodigiosa variedade de recursos do Sporting (Liedson, Liedson, Liedson e ainda aquele outro craque, o Liedson) resolve a questão do título, até porque, como se sabe, é impossível que o FC Porto supere o altíssimo nível a que jogou na primeira volta da SuperLiga, nem que, ao invés de refugo, a SAD tivesse antes contratado algum dos grandes jogadores que estão a caminho de Alvalade e da Luz, todos eles já com certificado de qualidade na Imprensa. No FC Porto, constata-se "o desnorte nas contratações", expressão utilizada por um par de iluminados para descrever o novo-riquismo com que o incompetente do campeão europeu, agora sem a sagacidade de Mourinho, desbarata a herança.

O que é o desnorte nas contratações? A venda de Carlos Alberto e Derlei (dois golos em conjunto, esta época) por onze milhões de euros e a substituição directa da dupla por Léo Lima e Cláudio Pitbull (três milhões) é incompreensível, sobretudo sabendo-se à partida, de fonte segura e sem necessidade de os ver jogar, que nenhum dos substitutos vale um chavo; a compra de um lateral-esquerdo, dada a qualidade das opções de Fernandez, também não tem qualquer cabimento, porque toda a gente sabe que Rossato foi comprado e vendido e ninguém quer saber se, quando o contratou, o FC Porto tinha por certa a transferência de Nuno Valente (30 anos); por último, trazer para Portugal um médio titular da selecção argentina, vice-campeão da América do Sul e campeão olímpico é naturalmente ridículo, dada a flagrante quantidade de maus indícios. É este o desnorte nas contratações, a que deve ainda juntar-se a "escola de samba" em que os dragões se vão transformando.

"Escola de samba" é a designação técnica recuperada pelos ditos pensadores - absolutamente isenta de xenofobia - para os laivos de racismo detectados no balneário do FC Porto. Concretizadas as trocas de Janeiro, o problema agravou-se: dos seis futebolistas brasileiros que tinha no plantel, Fernandez passou para uma alarmante panelinha de... seis brasileiros. Saíram três e entraram, imagine-se, três. Isto enquanto o Sporting assenta a liderança na mentalidade escandinava de Polga, Rochemback, Rogério, Mota, Liedson, Liedson, Liedson e Liedson. Anote-se a diferença.

O SEGREDO
Porquê o Brasil?


Um amigo muito bem colocado - trabalha em part-time nas bilheteiras do Municipal de Braga e já chegou a estacionar o carro atrás do de Jesualdo Ferreira - deixou-me surpreendido com a explicação para o recurso dos clubes ao mercado sul-americano: é muito mais barato do que o europeu, mais variado e em Janeiro tem os campeonatos parados. Ao que me dizem, este último aspecto facilita um pouco os negócios, ao ponto de convencer clubes como o FC Porto a procurar lá os reforços, à revelia dos péssimos exemplos que de lá vieram, como Deco, Derlei, Liedson, Liedson, Liedson ou Liedson. A estupidez não escolhe raças, mas de vez em quando escolhe camisolas.


in O Jogo

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