21 de Maio de 2003 - Sevilha
Eu fui um dos 15 mil felizardos que teve um bilhete mágico para estar presente na Final da Taça UEFA entre o Porto e o Celtic.
Fiquei hospedado num Hotel em Mata Las Cãnas, a 100 Km de Sevilha.
No dia do jogo pus-me a pé por volta das 10 horas da manhã, depois de uma noite bem regada na companhia dos escoceses do Celtic.
Pequeno-almoço reforçado e um banho de piscina. O meu coração já parecia uma batedeira. Para relaxar, nada melhor que uma piscina.
Pelas 13 horas, já estávamos de banho tomado e "decorados" de azul e branco. Enfim, prontos para a viagem em direcção a Sevilha, a cidade do sonho.
Estacionamos o carro junto ao Estádio do nosso sonho e pegamos nos autocarros disponibilizados pela Organização para chegarmos até à cidade.
Cidade linda e encantadora que é Sevilha, mas também servida de um calor quase insuportável. Mas naquele dia, tudo se aguentava.
O almoço foi num Restaurante que se encontrava já repleto de Portistas. A visão do dia 21 já era mais azul, em contraste com a maré verde e branca de adeptos do Celtic da noite anterior.
O meu irmão chega de avião neste mesmo dia e encontro-me com ele na praça onde almoço. Meia hora depois está tudo pronto para a grande festa.
Retomamos ao autocarro que nos levaria de novo ao estádio, agora também na companhia de uma dezena de simpáticos escoceses sem bilhete que queriam ver o palco de perto. Eram cânticos de apoio aos dois clubes que se faziam ecoar bem alto naquele autocarro. Tudo em festa e em harmonia como deve ser um jogo de futebol.
E lá estava novamente o palco dos sonhos. Um sonho que, para mim, já se encontrava cumprido pela metade. Ver o Mágico Porto, ao vivo, na final de uma competição europeia. Eu estava lá, de verdade, sem sonho e com bilhete na mão (esse papel mágico a que poucos tiveram acesso). A outra metade do sonho era ver o meu Mágico Porto ganhar.
Encontrava-me agora nas filas de espera para entrar no Estádio Olímpico de Sevilha e todo o meu corpo se encontrava em completo alvoroço.
Ali estava eu dentro do palco. E a nossa bancada já estava quase repleta. Eram 18.45. Faltavam duas horas para o início do jogo. Com a entrada dos jogadores no relvado, ainda de fato e gravata, , deu-se a primeira grande explosão da nossa bancada. Lindo, lindo de se ver. Um mar azul e branco todo louco. Um barulho ensurdecedor. E lá embaixo o agradecimento por parte dos nossos heróis. Eles estavam preparados.
As duas horas quase que voaram. Entre espectáculos musicais e coisas que tal, estávamos próximos das 20.45 (hora espanhola) e entram as equipas em campo. Éramos cerca de 15.000 Dragões, contra 50.000 escoceses, mas éramos valentes e confiantes.
Começa o jogo. A bancada cantava e puxava pelo Mágico Porto. Primeira contrariedade: Costinha lesiona-se.
Apesar disso, a nossa bancada respira confiança e os nossos heróis começam a dar um recital de bola, empurrando os escoceses para a corda. Deco está ao seu melhor nível. Ele era com cada nó cego, que só visto.
No fim da primeira parte tenho uma das sensações mais fantásticas de toda a minha vida. O festejo do primeiro golo do Derlei, ao vivo numa final europeia com o meu Mágico Porto. Que coisa, caro leitor. Nem há palavras para descrever. Parecia que o corpo queria explodir de alegria.
No intervalo já se gritava campeões, tal era a confiança.
Inicio da 2.ª parte com o homem nu a mostrar o vermelho ao árbitro. Este hilariante momento veio a preceder o golo dos escoceses logo no reatamento.
8 minutos da 2.ª parte e mais uma vez o Mágico Deco parte a loiça toda e faz um passe monumental para o Dimitri. Nas bancadas já tudo estava louco e Dimitri não quis deixar de nos enlouquecer ainda mais e mete a bola no saco. Que puto de golão.
Novamente um sentimento de euforia. Estávamos na frente. Mas logo de seguida novo golo dos Escoceses. Tristeza, apreensão, sei lá. Os sentimentos foram tantos, tão variados e ás vezes tão antagónicos que nem sei. Os escoceses melhoraram após o golo e o receio apoderou-se durante alguns momentos. Mas eis que a nossa bancada começa a ressurgir e a gritar pelo Mágico Porto. Estávamos outra vez a ganhar ânimo. Fim dos 90 minutos. A Cola que bebi serviu para gargarejar de forma a adoçar a garganta rouca para os longos minutos finais do jogo. Eu sabia que eles precisavam de nós e era preciso garganta com voz.
Recomeçou o jogo e 5 minutos depois é expulso um jogador que só deu pau o jogo todo. Finalmente Balde é expulso.
Ânimo ainda mais reforçado nas hostes. Gritava-se pelo Mágico Porto até à exaustão. Vira para a 2.ª parte do prolongamento e o jogo aproxima-se do fim. Meus caros, nunca por nunca acreditei nos pénaltis. Sabia que os havíamos de vencer e eis que: (relato da Antena 1 que já ouvi vezes sem conta, arrepiando-me sempre que ouço) Bola no Porto... Passe mortal............... Marco Ferreira aparece.......... Douglas falha........ ninguém para empurrar......... Vamos Derlei......... Bate, bate, bate......... Goooooooooooooooollllllllllllloooooooooooooooooo...
Meus caros amigos, a bola para nós que estávamos atrás da baliza, desde que saiu do pé do Derlei até chegar à baliza, dever ter demorado uma meia hora, tal a lentidão com que nos pareceu. Porque vimos a bola a bater no guarda-redes e ainda no defesa. Pareceu uma eternidade. Mas ela entrou. Fiquei sem forças nas pernas durante dois segundos. Caí para a cadeira a festejar. Fui agarrado por um miúdo de cerca de 11 anos que se encontrava atrás de mim que me dizia: "o sr. bem dizia, o sr. bem dizia" uma vez que o reconfortei sempre dizendo-lhe que íamos marcar. Abracei pessoas sem conta. A família Portista estava louca de alegria.
Nunca senti uma coisa assim. Nem sei explicar. Segundos depois saltei para cima de um dos corrimões das passagens. Estava louco. O sonho estava a concretizar-se. Ainda sofremos, mas quando o árbitro acabou o jogo, as lágrimas caíram. O meu sonho estava cumprido. O Porto ganhou uma final europeia e eu estava presente na bancada.
Os momentos seguintes foram de festejo, de abraços com quem não conhecia mas estava de azul vestido, etc, etc.
E o Caneco era nosso. O hino do Porto, os filhos do Dragão, as outras músicas, que coisa fantástica dentro daquele estádio.
E o resto é o voltar à cidade de Sevilha, jantar no meio de escoceses civilizados que nos davam os parabéns e pediam as camisolas. Tudo em paz mas com uma alegria indescritível. E há meia-noite durante um jantar a festejar a vitória acabou o dia mais feliz da minha vida.
E é nestes dias assim que todos dizemos que valeu a pena ser portista... que vale a pena ser portista...
Porque com este maravilhoso clube, os sonhos tornam-se realidade... Obrigado FC PORTO por tudo o que me proporcionas.
Obrigado, mas muito obrigado mesmo 2003...
Bem vindo 2004. Que me faças tão feliz como o teu antecessor...
Para todos os amigos Dragões, desejo-vos a todos um ano de 2004 como a época 2002/2003 do nosso Mágico Porto. Só de sucessos e avesso ao fracasso.
Divirtam-se que bem merecemos...
O Dragão
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