quarta-feira, 7 de setembro de 2005

Os casos McCarthy e MAniches e afins...

Decididamente estes casos dos jogadores de futebol metem-me um nojo que só visto.
Assinam contratos com ordenados chorudos e depois dizem que fizeram alguma coisa pelo clube que representaram para os forçar a deixar sair.
Nunca nenhum deles chegou junto da entidade patronal a pedir que lhes baixasse o ordenado porque não jogam nada ou porque não são titulares, nem coisa que se pareça, como se o risco corresse apenas para um dos lados.
Vem isto no seguimento das notícias do McCarthy e do Maniche, pelo que julgo pertinente os comentários do MST ontem no Avante, bem como o de Manuel Casaca que ilustra bem o meu pensamento sobre tal assunto.
Acresce que, numa das partes do artigo do MST, ele refere-se ao peseteiro, parte que dedico ao Azulão, que vai adorar(e que irei por a outra cor para distinguir). Passo a transcrever:

MST
"(...)que o Maniche não tardaria muito a dizer que se queria ir embora do Dínamo de Moscovo. Bastou-me olhar para uma fotografia aqui publicada, do Maniche acabado de chegar a Moscovo, posando no meio da rua, com uns óculos escuros indescritíveis e uma atitude de vedeta acabada de chegar, sei lá, ao Festival de Cannes, para perceber tudo: ele não sabia ao que ia, não fazia amais pequena ideia de onde tinha desembarcado, e estava ali numa atitude de «venha a mim o vosso reino, porque eu não vou de certeza incomodar-me a ir a ele».

Só não tinha previsto, apesar de tudo, que bastasse um simples mês, o mês de Agosto em Moscovo, para Maniche concluir que não gosta do país, não gosta da cidade, não gosta do clube, não gosta do campeonato, não gosta do povo, não gosta da imprensa local, não gosta da vida e não gosta do clima (e ainda ele está longe de ter experimentado o célebre Inverno russo, que derrubou ilusões e importâncias bem maiores do que a sua...). «Aquilo não é o que eu esperava», diz Maniche, como se a culpa fosse da Rússia ou de Moscovo por não serem aquilo que a sua santa ignorância desconhecia. O caso de Maniche, a leviandade das suas declarações e desabafos, é eloquente de um certo espírito de irresponsabilidade e vedetismo provinciano que é uma imagem de marca de tantos e tantos futebolistas portugueses que desesperam por um contrato milionário no estrangeiro, mas que não estão à altura do que a aventura implica. Gostam muito dos euros, dos dólares e dos rublos, que, escritos preto no branco num contrato, os deixam de cabeça à roda, mas depois realizam com espanto e desconforto que não lhes basta saber jogar futebol para se sen- tirem felizes no estrangeiro: falta-lhes os amigos, a língua que não entendem, a cultura e o estilo de vida que ignoram, a imprensa que não os bajula como estavam habituados, o Paulo China e o bacalhau com todos.


Diz Maniche que «a família não gostou de Moscovo», que os russos acham que os futebolistas estrangeiros «só estão ali embusca de dinheiro» e que «o campeonato russo não condiz com o valor dos jogadores portugueses». Extraordinárias declarações! A família não gosta de Moscovo, mas de certeza que gosta do contrato que ele fez. Os estrangeiros são mal acusados de só estarem ali pelo dinheiro,mas, ouvindo o Maniche dizer que não gosta de nada, que outra razão terá ele para estar ali, que não o dinheiro? E os jogadores portugueses são bons de mais para o campeonato russo, mas, com onze jogadores do campeonato português colocados por Jorge Mendes no Dínamo de Moscovo, a verdade é que a equipa progride de derrota em derrota e vegeta algures pelo 10.º lugar da classificação! Maniche custou 3,6 milhões de contos ao Dínamo de Moscovo (mais do que o Robinho custou ao Real Madrid), passou um mês de verão em Moscovo, nada tendo até agora acrescentado à equipa, segundo rezam as crónicas, e já se acha com o direito de dizer que é tudo horrível, o campeonato não é digno do seu valor e, embora tenha cinco anos de contrato, quer ir já embora e espera que, entre o clube e o seu empresário, alguém lhe resolva este equívoco de preferência, claro, sem que o seu sumptuoso vencimento seja beliscado. Pergunto: o que sentirão os jogadores e os adeptos do clube que acabou de contratar um jogador com este espírito profissional?

A venda de Maniche ao Dínamo foi talvez o melhor negócio que a Direcção de Pinto da Costa fez. Três anos antes, o FC Porto tinha-o ido buscar ao anonimato do Benfica B, onde ele vegetava de castigo, e, em dois anos, o clube fez dele bicampeão nacional, vencedor da Taça UEFA, campeão europeu e campeão do mundo, titular indiscutível da Selecção Nacional. Passados esses dois anos e tendo visto sair da equipa campeã europeia Deco, Ricardo Carvalho e Paulo Ferreira, Maniche achou que também ele tinha o direito natural de sair, bastando que o quisesse. O seu contrato era por cinco anos mas aparentemente ele achava que lhe bastavam dois anos de trabalho para conquistar o direito de sair quando quisesse. É omesmo princípio advogado pelo empresário de McCarthy e tantos outros empresários e jogadores: se eles «deram muito ao clube», isto é, se jogaram o que sabiam para justificar o ordenado de luxo que nunca lhes faltou, têm o direito de mudar de ares, se e quando lhes apetecer, independentemente do contrato que, em hora de maior humildade, assinaram. Pinto da Costa recusou a saída e Maniche não se coibiu de dizer que ficava contrariado e contrariado ficou mais um ano. E, quando essa contrariedade ostensiva do jogador que acha que «pode jogar em qualquer campeonato» ameaçou tornar-se ingerível, Pinto da Costa despachou o problema para o Dínamo de Moscovo, a troco de 16 milhões de euros, assim como recentemente Luís Filipe Vieira despachou o problema de arrogância do Miguel a troco de oito milhões, para o Valência. Esta bom de ver que nem o Dínamo nem o Valência fizeram bom negócio: jogadores que não demonstram nenhuma gratidão, nenhum amor ao clube que lhes paga e que os fez crescer, nenhum respeito pelos contratos que assinam, são jogadores que, mais tarde ou mais cedo, vão criar problemas. Ao Maniche bastou-lhe um mês, ao Miguel é só esperar para ver.

Infelizmente, este espírito tornou-se quase banal e, quando se trata de jogadores portugueses no estrangeiro, goza até da infinita compreensão da nossa imprensa. O melhor exemplo é o emblema nacional chamado Luís Figo, que começou a sua carreira internacional assinando dois contratos por dois clubes diferentes e que, depois, capitão de equipa do Barcelona, apareceu no mesmo dia, de manhã no Sport a beijar a camisola do Barça e à noite, na Marca, de camisola do Real ao peito. Mas ainda hoje, a nossa imprensa desportiva, continua a passar a mensagem de que foi o Barcelona e a Catalunha que se portaram mal para com Figo.

Agora a outra face da moeda... Manuel Casaca no jornal "oJogo"

"Joguei no Estrela e no FC Porto e tive sempre clubes interessados nos meus serviços. Como sempre fiz contratos longos, o clube é que dita a altura de eu sair ou não. Por muita força de vontade que tenha, se o clube está satisfeito comigo e conta comigo, cumpro os contratos. O Estrela e o FC Porto tiveram necessidade de vender-me. Por isso saí".

Estas declarações foram proferidas anteontem por Jorge Andrade, um dia depois de Maniche ter aquecido o ambiente do Rússia-Portugal de hoje ao confessar que estava arrependido por ter assinado pelo Dínamo de Moscovo, pois não gosta do clima, do país e do próprio futebol que por lá se pratica. A esta situação provocada pelo médio acrescente-se o "caso Miguel" e a sua saída do Benfica para o Valência. Mas será que um jogador quando assina um contrato não o faz de livre vontade e não tem conhecimento da situação que vai encontrar? Maniche não sabia que na Rússia as temperaturas são baixas, a língua é diferente, assim como a comida? Podia ter-se aconselhado com seu irmão, Jorge Ribeiro, que estava lá há mais tempo.

Felizmente ontem surgiu o discurso sério de Jorge Andrade. O defesa-central está a cumprir a sua quarta temporada consecutiva no Corunha, com quem tem contrato até 30 de Junho de 2009, e nestes anos todos ninguém o viu forçar a saída do "Depor". E o internacional português até é um dos melhores defesas-centrais do Mundo, como ainda no sábado o provou na partida contra o Luxemburgo. Foi, de resto, na minha opinião, o melhor jogador em campo. Jorge Andrade bem podia tentar forçar a sua saída, porque clubes maiores do que o Corunha já mostraram interesse na sua contratação, mas nem assim fez qualquer desvio no seu comportamento. Como os contratos são para cumprir, o central cumpre-os à risca com o seu elevado profissionalismo. Pena é que nem sempre o seu comportamento e as suas exibições sejam reconhecidas...
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