Sonho mágico
Só podia ser assim! Um enorme caudal ofensivo, uma série infindável de oportunidades e uma irritante falta de sorte apenas podiam terminar desta forma. Foi um teste aos corações portistas, mas foi simplesmente mágico. Que grandes golos! Que explosões! Inebriante! O F.C. Porto merecia estes três pontos e a festa do Dragão tinha mesmo de fechar com uma enorme labareda.
Esta é uma espiral que principia pela extremidade final. Não interessa falar das abordagens, pouco importa recordar o mar ofensivo, a enxurrada de oportunidades, o ritmo intenso e a soberba atacante. Importante é festejar, recordar os grandes golos, rever mil e uma vezes a magia de Quaresma, o repentismo de Alan e a frieza de Hugo Almeida!
O F.C. Porto somou mais três pontos na Liga 2005/06 e mantém-se firme no topo da classificação, enchendo o peito de ar, engordando a sua confiança, reafirmando indicações firmes e bem concretas. Esta é uma equipa que tem tudo para ser encantadora e que gosta de prestigiar este espectáculo maravilhoso que é o futebol. É uma máquina empolgante.
A partida com o Rio Ave nunca seria acessível. A equipa de Vila do Conde chegava de duas jornadas vitoriosas, no cume de uma grande moral, com o sonho de continuar a surpreender. Não vinha para dialogar de forma aberta, para esgrimir argumentos parecidos, mas apresentava-se com arrojo, procurando desdobrar-se rapidamente, numa tendência clara para o contra-ataque.
Em condições normais, o estádio teria festejado aos 14, 17 e 29 minutos, por exemplo. Teria explodido com naturalidade logo na primeira parte, na sequência lógica da pressão azul e branca. O F.C. Porto procurou marcar por todos os meios, empurrou o adversário, circulou a bola, lutou com bravura, pintou a manta com alguns lances de sonho. Tudo se aproximava da perfeição. Menos o derradeiro remate.
As características do jogo tornaram-se ainda mais vincadas após o descanso. O Rio Ave encolheu-se, o F.C. Porto cerrou os dentes, Co Adriaanse arriscou tudo, surgiu o espectro do massacre. E foi por estes instantes que se viu a qualidade do público do Estádio do Dragão. O ambiente manteve-se explosivo, as almas foram ficando espicaçadas. A magia estava à distância de um clique, de uma faísca, de um toque divino.
E pronto, termina a espiral. Quaresma entra em campo e, quando dá de caras com o risco, acerta-lhe bem forte no estômago, deixando-o KO. Descrever a pincelada é pecar pela escassez. Um dicionário não chegaria para explicar o encanto daquela trajectória. Só a bola poderá contar o que o extremo portista lhe disse com o pé direito. Quem viu suspeita que tudo foi um sonho.
Com as bancadas a arder, seria legítimo abrandar. Mas não. Com as bancadas a arder, a perfeição estava à distância de qualquer coisa. De um tiro cruzado de Alan e de uma cabeçada felina de Hugo Almeida? Pois bem, foi isso mesmo que aconteceu. Isso e magia. Magia azul e branca.
FICHA DO JOGO
Liga 2005/06 (3ª jornada)
Estádio do Dragão, no Porto
Assistência: 38.421 espectadores
Árbitro: Elmano Santos (Madeira)
Assistentes: Sérgio Serrão e Luís Marcelino
4º árbitro: Marco Ferreira
F.C. PORTO: Vítor Baía; Sonkaya, Ricardo Costa, Pedro Emanuel «cap.» e César Peixoto; Ibson, Lucho Gonzalez e Diego; Lisandro Lopez, Sokota e Jorginho
Substituições: Ibson por Alan (56m), Lisandro Lopez por Hugo Almeida (65m) e Diego por Quaresma (79m)
Não utilizados: Helton, Bruno Alves, Pepe e Paulo Assunção
Treinador: Co Adriaanse
RIO AVE: Mora; Zé Gomes, Danielson, Idalécio e Milhazes; Niquinha «cap.», Ricardo Jorge, Cleiton e Marquinhos; Gaúcho e Chidi
Substituições: Ricardo Jorge por Delson (62m), Chidi por André Vilas Boas (68m) e Gaúcho por Keita (83m)
Não utilizados: Candeias, Diego, Agostinho e Bruno Mendes
Treinador: António Sousa
Ao intervalo: 0-0
Marcadores: Quaresma (87m), Alan (90m) e Hugo Almeida (90m)
Disciplina: Cartão amarelo a Marquinhos (54m), Danielson (68m), Mora (76m), Hugo Almeida (81m) e Keita (89m)
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