terça-feira, 6 de julho de 2004

OBRIGADO POR TUDO, MÁGICO

De todos os jogadores que vi jogar ao longo da minha vida e que envergaram a mítica camisola às listas azuis e brancas, dois situam-se num patamar mais elevado. Naquele patamar a que só os eleitos ascendem roçando a imortalidade. E já vi muitos jogadores, ao vivo ou na televisão. Claro que não me esquecerei das enxurrads de golos do Jardel, das diabruras da dupla Domingos Kostadinov, do bi-bota, dass fintas do Futre e de tantos outros. Mas Madjer e Deco são de outra dimensão. Nasceram e viveram num planeta futebolístico que poucos sabem onde é. Vieram a este mundo para encantar os amantes deste desporto-rei. Para os maravilhar com um inesgotável gama de recursos técnicos, não descritos em compêndios. Mais simplesmente, para fazer magia sobre a relva. De Madjer recordo a facilidade com que fintava quem lhe aparecesse, fosse com o pé direito ou esquedo, sempre naquele estilo elegante inconfundível. Num rompante acelarava e deixava tudo e todos pregados no chão. Cruzava de qualquer maneira para o Gomes, em centros de régua e esquadro. Lembro-me também que os livres à entrada da área eram golo certo. Colocava a bola, dava três passos atrás e anichava a bola no ângulo. Penso que não termos outro igual. Na altura dizia que era o segundo melhor jogador do Mundo, logo a seguir a um senhor chamado Diego Armando maradona. Como este definitivamente não era humano, Madjer era assim o melhor do Mundo.
Muito anos passados e eis que durante cinco épocas e meia, um jogador baixinho e de aspecto oriental espalha arte pelos cinco cantos do Mundo. Dele se canta também que finta com os dois pés e é melhor do que o Pelé. Não mais me esquecerei dessas fintas inacreditáveis, rodeado de adcersários muto mais altos e fortes do que eles, mas que não o derrubavam com um simples encosto. Desde túneis, a chapéus, vi-lhe fintas que não vi em mais ninguém. E cruzamentos certeiros "de letra". E classe, muita classe, exemplificada no 2º golo em Gelsenkirchen. Foi, de facto, um previlêgio poder fazer parte da tribo de adoradores deste Xamã, durante tantos anos, sem me cansar. Hoje, ao vê-lo com outra camisola fui invadido dum sentimento forte de nostalgia. Sabia que este dia chegaria e não o poderíamos obrigar a ficar. Ele sai para ganhar muito mais dinheiro, mas também, e sobretudo, porque persegue um título que aqui, pela mediocridade do nosso campeonato não poderia alcançar, nem representando o oásis chamado FC Porto - o de melhor jogador do mundo. Merece todo o nosso carinho e o incentivo para que tal aconteça. Aí será tão feliz como na Cidade Invicta, pois do resto já aqui conheceu o sabor.
Por estes cinco anos e meio, o meu muito obrigado, Mágico!

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