segunda-feira, 26 de julho de 2004

O Andebol em Portugal!!!

Hoje irei falar sobre uma modalidade que adoro, que me diz muito, do qual sou ex-praticante, ex-dirigente (nunca ligado ao Mágico Porto, esclareço) e sobre o qual pouco se tem falado ou dado a devida atenção apesar da gravidade da situação.
 
Neste momento assiste-se a uma guerra (sem aspas, porque é uma autêntica guerra) entre a Liga Profissional de Andebol (designada doravante por LPA) e a Federação de Andebol de Portugal (FAP) para organização de campeonatos profissionais ou de 1.ª divisão.
A LPA conta com as melhores equipas do andebol Português (FC Porto, ABC, Águas Santas, Madeira SAD, etc) e pretende implementar uma forma de beneficiar o andebol português e para o impulsionar para um patamar nunca visto. No entanto, o boicote que tem sido feito pela FAP e pelo seu Presidente Luis Santos à organização da Liga, é vergonhoso, para não me exceder ainda mais.
A FAP ao longo dos anos do reinado de Luis Santos fez um trabalho meritório de desenvolvimento e notoriedade das Selecções Nacioanais. Estamos nos campeonatos da Europa e do Mundo, anos consecutivos.
 
No entanto, todo esse trabalho tem sido desenvolvido em desfavor dos clubes e da competitividade do campeonato. Todo o trabalho de uma época era, e é, programado em função da Selecção.
Todos os meios económicos eram canalizados para a Selecção e roubados (o termo pode parecer exagerado, mas não é) os clubes.
Os clubes para participarem no campeonato, tinham de pagar as inscrições dos jogadores a um preço elevadíssimo. Cada inscrição de um jogador era um autêntico roubo.
Os clubes para participarem no campeonato, tinham de ceder todos os direitos televisivos e comerciais à FAP.  Todos os espaços publicitários de excelências e de maior visibilidade nos pavilhões tinham de ser cedidos à FAP (centro do terreno, áreas de baliza, volta de todo o campo, etc) para os clubes poderem participar nos campeonatos. E todas estas cedências, eram feitas para que a negociação fosse feita em bloco e distribuir maiores proventos aos clubes.
No entanto, estes proventos eram dividos em função da classificação final de cada clube, ganhando o clube campeão nacional, pasme-se, a quantia exorbitante de 15.000€ (três mil contos) apesar da cedência de umas das suas grandes fontes de receita.

Antes, os clubes ainda ganhavam algum dinheiro pago pelas televisões  sempre que os jogos eram transmitidos. Nos últimos anos, não. Quem o recebia era a FPA e que distribuia no final do campeonato.

O regulamento de transferências é de uma estupidez que só visto. A tabela de cálculo das indemnizações está feito de forma a que a FAP também receba pela transferência de um attela de um clube para outro. Ou seja, se o o atleta houver representado a Selecção Nacional, a indemnização devida é maior, mas uma percentagem dessa indemnização é para ser paga à FAP apesar desta nunca ter contribuido no que quer que seja para a sua formação, nem nos seus ordenados mensais e apesar do jogador ter contribuido para o sucesso de Portugal nas camadas jovens em Andebol.
Mais, dá-se o ridículo de uma equipa ter que pagar a percentagem à FAP, mesmo que o jogador tenha cedido a título gratuito pelo anterior clube, isto é, o jogador é dispensado pelo anterior clube, que nada exige a titulo de compensação, mas a FAP faz os cálculos, ficciona a indemnização e exige à mesma a sua percentagem. Uma autêntica vergonha.

A inscrição dos andebolistas estrangeiros (cuja definição para a FAP, pasme-se,  são todos os atletas que não podem representar a Selecção Nacional) tinham os preços de inscrição em função do País de origem. Se eram de Países de selecções presentes em campeonatos do Mundo e Europa tinham um preço de inscrição mais baixo. Senão, era mais cara a sua inscrição. Se no final da época não estivessem acima de uma posição de um ranking feito e estabelecido pela FPA, os clubes teriam ainda de pagar mais um tanto pela inscrição do mesmo e este só sob autorização especial da FPA é que poderia jogar na 1.ª divisão no ano seguinte.
Ou seja, um clube contratava um jogador, que depois até nem se revelava e tinha de o mandar embora a meio, era penalizado porque tinha de contratar outro, pagar àquele e ainda à Federação, mais a pipa de massa da outra inscrição. Como os clubes de menor dimensão não podiam ir buscar suecos, espanhóis, etc, (mesmo os de grande dimensão muito dificilmente o faziam) estamos a ver quem lucrava com isto. 
O ranking era definido no final da época pela FAP conforme os seus interesses.
Voltando à definição de jogador estrangeiro, claro está que um jogador naturalizado e não autorizado pela FPA a jogar na Selecção (porque jogar na Selecção tem de ter uma autorização especial da mesma) continua a ser estrangeiro para todos os efeitos, mesmo para o pagamento da inscrição.

Por fim, falarei agora na definição dos calendários dos campeonatos organizados pela FAP. Ora, o campeonato começa em Setembro, inícios de Outubro, jogam-se dois jogos por semana, fazendo-se rapidamente os jogos de clubes que nada interessam que é para em finais de Novembro se parar o Campeonato e começar a preparar a Selecção para os jogos que se avizinham.
Retoma-se o campeonato em Fevereiro e joga-se até finais de Março, nova paragem para as Selecções por mais dois meses e finaliza-se o campeonato em Maio.
Os clubes de andebol, pagam os dez meses de ordenados, têm os jogadores por seis ou cinco meses, fazem jogos a meio da semana à noite com meia dúzia de espectadores e claro, os patrocinadores não aparecem porque a visibilidade é pouca e os próprios espectadores e amantes da modalidade não têm oportunidade de ver o Desporto que gostam durante todo o ano, como todos os demais campeonatos de outras modalidades. Perdem o interesse e o fio à meada de um campeonato. Em Espanha, Alemanha (melhor campeonato do Mundo), França, etc, apesar de sempre presentes nas fases finais de campeonato do Mundo e Europa, nunca um calendário destes é assm feito. 

Acresce a tudo isto, o facto das melhores equipas portuguesas e que tão bom nome a Portugal tinham dado (relembro um final da Liga dos Campeões jogada pelo ABC e meias-finais da EHF pelo FC Porto), de não poderem disputar as provas europeias, porque assim o entendeu Luís Santos, Presidente da FAP, pondo nessas mesmas competições (porque é à Federação que cabe indicar os apurados para as competições europeias), equipas da 2.ª divisão do nosso andebol e que são eliminadas à primeira por equipas de trazer por casa.

Por tudo isto e por muito mais, as equipas de andebol do nosso País, resolveram criar a Liga Profissional e assim tornar rentável uma grande modalidade e terem para si os proventos do que vendiam.
Assiste-se então a um nojento jogo de bastidores de pressão aos clubes todos:
1.º porque, em função do descrito, todos ou quase todos deviam dinheiro à FAP;
2.º porque o Presidente da FAP via-lhe fugir a mina de ouro com o qual havia obtido sucesso e notoriedade sem gastar muito e amealhando bastante.
Assim, hoje em dia, tem o preço da inscrição dos jogadores que jogam na LPA a um preço exorbitante, muito maior do que quando a prova era organizada por eles. Por outro lado, hoje em dia, isentou os clubes que compitam na divisão de Elite (organizada pela FPA), do pagamento de seguro de atletas e do pagamento das inscrições.

Com isto, e sabendo bem o estado paupérrimo das finanças dos clubes (e sabe bem porque foi um dos principais causadores da mesma) faz com que as equipas não queiram competir na Liga e assim tenta inviabilizar o projecto que lhe tirou a mina de ouro. Não no interesse do andebol, mas sim num interesse mesquinho e de ditadura e que prejudicará, em muito, o futuro do andebol, modalidade essa que é do gosto de muitos portugueses e minha em particular. 

Para comprovar o que digo, vem ontem o Presidente do Águas Santas denunciar publicamente (porque muitos já haviam notado isso sem alarido) o caso dos atletas que foram punidos pela praxe que fizeram a outro na Selecção Nacional de juniores.  A Selecção convocou os jogadores aos clubes para jogos da Selecção. Estes fizeram as praxes na Selecção porque a FPA não soube tomar conta deles e o que é que acontece é que, como foi um caso divulgado pelos média, o Presidente da FPA diz que vai punir exemplarmente os jogadores.
E puniu. Mas vejamos como:
Enquanto decorreu o inquérito disputava-se o apuramento para o Europeu do escalão em causas e os atletas jogaram o apuramento;
Quando acabou o apuramento, em que a Selecção foi apurada, saiu o castigo aos jogadores que não puderam actuar pelos clubes;
O castigo acabou exactamente  e imediatamente antes de iniciar a fase final do Europeu e para o qual os jogadores sancionados foram convocados e jogaram.
E para que conste, os responsáveis que estavam no estágio, tiveram algum inquérito?
Não, claro que não.
Prejudicados? os de sempre, os clubes.
Se isto não é uma vergonha, o que é

Por tudo o que foi descrito, os clubes que fundaram a LPA avançaram para ela no intuito de devolver o andebol aos praticantes e aos seus amantes, tentando torná-la numa modalidade de massas e com adeptos e não como hoje em dia, de um jogo de meia dúzia, para meu lamento.
No entanto, alguns dos que estiveram desde a primeira hora contra este tipo de actuações hoje viraram o bico ao prego e pactuam com este tipo de comportamentos.
O Sporting, é uma vergonha. Não lutou pela modalidade. Como diz o Presidente do Águas Santas
"costuma dizer-se que os primeiros a fugir são os ratos...". Deixo aqui aquilo que ele disse em relação ao Sporting:
"A saída do Sporting da Liga foi a maior traição que se cometeu no desporto português. O Sporting, como sócio fundador da LPA, tem responsabilidades. O que fez à Liga é quase como um pai cortar uma perna a um filho quando este começa a andar. Se há clubes que são responsáveis dentro da Liga, há outros que o são muito mais pela sua visibilidade e o Sporting é um deles. O que o Sporting fez foi muito feio. Lembro-me que quando fomos a Alvalade apresentar o nosso projecto, foi-nos dito pelo senhor presidente do Sporting, doutor Dias da Cunha: "Meus senhores, a partir deste momento, o Sporting Clube de Portugal está convosco nesta 'luta'. É a palavra do presidente da direcção do Sporting". E agora custa-me a acreditar que, passados dois anos, o doutor Dias da Cunha se deixasse embarcar não sei em quê e passar para a II Divisão. Há clubes que hão-de ser pequeninos toda a vida. E é preciso ver que são os dirigentes que fazem os clubes grandes ou pequenos. De maneira nenhuma esperava isto do Sporting, especialmente depois de ter ouvido que era a palavra do presidente."
E digo isto em relação ao Sporting, como o diria em relação ao meu Mágico Porto caso assumisse a mesma posição.

E deixem-me esclarecer que este post não é escrito com o intuito de criticar os Lagartos e para defender o Porto. Está muito para além disso.
É uma revolta, uma indignação e um desabafo de quem gosta muito de andebol e o está a ver destruido.
Só que também tive de falar do Sporting, porque é um dos impulsionadores da Liga que agora abandona, e não calar a minha revolta contra este senil, porque também ele sabe o que representava a Liga para o Andebol. Já o ano passado a traição do Sporting em ter aceite disputar a Taça das Taças de andebol não foi bem digerida por todos os clubes da Liga, pois havia uma posição unanime de não aceitar o convite que fosse feito a algum deles paras para as competições europeias, se o mesmo não fosse extensivo a todos os que conquistaram esse mérito no campo.
A última facada foi esta. Muitos outros clubes também fugiram, mas esses mais por dificuldades financeiras, por serem clubes pequenos, terem de ceder perante a ditadura e as dívidas que têm à FAP, que ameaça com processos judicias e porque pouca força têm.

Mas se querem um andebol melhor, outra atitude poderiam ter, mas também não se lhes pode exigir muito mais. Porque quem vai saindo favorecido são eles, porque agora menos pagam. Ou seja, não pagam agora, aquilo que A FAP sempre entendeu cobrar a seu bel prazer.
Estas atitudes, para que conste, se fossem do Porto, fariam-me corar de vergonha e transmitiria isso ao nosso Presidente.
Neste momento a Liga vê-se na contigência de não poder organizar o campeonato por falta de equipas que a queiram integrar, fruto do boicote da Federação.
Tenho a dizer que não tenho nenhum interesse em jogo, nada. Sou um simples amante de andebol (e grande) e já chega de ver estas coisas sem ninguém dar um murro na mesa.
Espero que este post tenha sido esclarecedor para muitos e que não o utilizem apenas em termos clubísticos e peço que não comentem apenas o facto do Sporting ter abandonado a Liga.
Apenas o pus aqui, porque acho que era importante para todos terem conhecimento do que se passa, mas não o mais vital. Este esclarecimento é isento de clubismos, para que cosnte.

Desculpem o desabafo, é extenso, mas o Andebol merece e todos merecem saber ao pormenor os contornos desta questão...


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