Maisfutebol: O que é que se passou em Barcelos depois do jogo com a Sérvia e Montenegro? Agrediu um adepto como veio a público?
Quaresma: Eu vinha a sair da zona dos balneários e estava a dar um autógrafo a um miúdo. Um individuo chegou ao pé de mim, pôs-se aos gritos, dizendo: «Não foste para a Alemanha e vens para cá e não jogas nada. Tens a mania e não és jogador nenhum. Não jogas nada. Não vales nada.» Disse-me isto entre outras coisas, de que nem me recordo. Esse senhor agrediu-me verbalmente e eu empurrei-o para se calar, mas não agredi ninguém.
A polícia foi chamada a intervir?
Houve um agente da polícia que assistiu a tudo e viu que quem me provocou foi ele e constatou que eu não provoquei ninguém. Eu passei, dei autógrafos, passou-se essa situação e entrei de seguida no autocarro da selecção nacional e fui para o hotel. Quando saí vi que o polícia ficou lá com ele e pediu-lhe a identificação.
O que significa para si esta confusão com adeptos?
Não são os adeptos. Os adeptos não têm essas atitudes. Fico triste pela estupidez de um português que mancha a imagem dos outros que nos apoiaram durante o Europeu.
Depois de a história ter vindo a público o que espera que aconteça?
Espero que não aconteça nada, pois não fiz mal a ninguém. Nunca estive envolvido em confusões, pois não fiz mal a ninguém. Nunca fui a um tribunal por causa de algo deste género e não é agora que irei.
Para além desta situação fora do relvado, no jogo com a Alemanha esteve envolvido num lance polémico com o guarda-redes. O que se passou? Houve agressão?
Foi um lance normal. Pensei que ia chegar à bola, estiquei a perna e foi pena tê-lo atingido. Não foi com intenção de aleijar ninguém. Não houve agressão.
Ricardo Quaresma está de saída do F.C. Porto?
Neste momento estou de saída, mas é para férias [Risos]... Não. Estou muito bem no F.C. Porto. Agora, se chegar uma grande proposta que seja boa para mim e para o clube, aí sentamo-nos à mesa e discutimos. Não estou a pensar sair, mas no mundo do futebol não podemos dizer que não vamos sair, pois hoje estamos aqui e amanhã ali. Não vou estar a dizer que não vou sair, mas sinceramente só penso no F.C. Porto. Tenho mais três anos de contrato e espero cumpri-los no Porto.
Nem muda de opinião quando o Chelsea é apontado como um dos clubes interessados em si?
[Risos, rios]... Claro que todo o jogador fica contente por saber que o Chelsea o quer e eu não fujo à regra. Fico feliz quando sei que algum clube me quer, agora eu no Porto sinto-me muito bem, sempre fui muito acarinhado, fui muito bem recebido, é um clube onde sinto que me adoram. Apesar de não ser da casa, sempre fui tratado como um menino da casa, por isso só tenho que me sentir bem aqui. E tudo o que puder fazer por este clube vou fazer. Se tivesse que sair, tinha de ser uma grande proposta tanto para mim como para o clube.
Tem conhecimento de alguma grande proposta do Chelsea ou de outro clube?
Eu não, pois não tenho falado com o meu empresário e por isso não sei de nada.
O campeonato inglês consegue seduzi-lo ou continua a preferir mais Espanha?
Sempre disse que admiro muito o campeonato espanhol. Para mim é um campeonato que tem mais a ver com o meu estilo, mas isso não quer dizer que não goste de Inglaterra ou Itália. São grandes campeonatos, competitivos e além disso é um risco ir para um campeonato desses. Como eu gosto de correr riscos, não teria medo de arriscar ir para Inglaterra ou Itália.
Depois do risco falhado no Barcelona está preparado para arriscar de novo?
Tudo na vida é um risco e nós quando arriscamos nunca coisa nunca sabe se vai correr bem ou mal. O futebol é dos riscos mais elevados que existe. Podemos estar bem num clube, chegamos a outro e o treinador pode não gostar muito da tua cara, não apostar tanto em ti e não te dar confiança. Acho que um jogador sem confiança, por muito bom que seja, não consegue fazer nada. E sem oportunidades ainda pior.
Já assumiu numa entrevista que se fosse actualmente não teria ido para Barcelona naquela altura?
Se calhar, se fosse hoje, pelo que sei e pela maturidade que já ganhei, pensava duas vezes. Talvez fosse muito novo, mas nem tive tempo para pensar. O Barcelona foi sempre um clube que me deixou e me deixa louco. É um clube de que sempre gostei e admirei desde pequeno, mas se fosse hoje pensava duas vezes. Mas, se tivesse que sair neste momento sairia, pois já me sinto mais maduro e sinto que ia olhar de maneira diferente. Se passasse agora o que passei no Barcelona naquela altura penso que seria fácil lidar com isso, coisa que em Barcelona não foi nada fácil.
Mantém aceso esse desejo de regressar ao Barcelona?
Continuo a admirar o Barcelona, pois é um grande clube, mas não me estou a ver no Barcelona. Neste momento estou mais a ver-me de branco e azul, que são as cores do F.C. Porto.
Sente-se o melhor jogador da Liga?
Acho que fiz uma grande época, mas penso que de um grupo de quatro ou cinco jogadores do F.C. Porto qualquer um poderia receber esse prémio. Se alguém tinha que receber esse prémio só podia ser jogador do F.C. Porto.
Porque foi a equipa mais regular?
Sim. Porque o primeiro lugar sempre foi nosso. Porque nunca demos chances ao Sporting ou ao Benfica para sentirem o sabor do primeiro lugar. Fizemos todos um grande campeonato e de entre esses cinco jogadores qualquer um deles podia receber o prémio. Não vou falar de nomes, mas no F.C. Porto há jogadores muito bons e muito importantes. Espero que este ano não saiam, pois fazem muita falta ao clube.
Já falou do crescimento que teve. Até onde pensa que pode chegar? Que Quaresma teremos na próxima época?
Pode-se esperar que irei tentar fazer o meu melhor para fazer uma época ainda melhor do que esta, mas ainda é cedo para dizer onde posso chegar. Vivo o meu dia-a-dia e não gosto de pensar que já fiz tudo o que tinha para fazer, pois ainda sou muito novo.
Sente que ganhou respeito nesta época?
Sim. Penso que ganhei respeito, sobretudo por parte daquelas pessoas que duvidaram do meu valor. Essas pessoas se calhar hoje em vez de criticar já têm que admitir o valor que tenho e isso deixa-me contente.
O que foi mais determinante neste F.C. Porto? Foi o Quaresma ou foi o grupo?
Foi o grupo. Como já disse, o grupo foi fantástico. Na equipa que jogou regularmente todos estiveram bem. Não vamos dizer que o Quaresma levou o F.C. Porto ao título ou que resolveu jogos, pois se resolvi foi graças aos meus companheiros. Todos fizemos um grande campeonato e estamos de parabéns por isso.
Está a inventar alguma jogada?
Não gosto de inventar nada. O que tiver que sair sai. A trivela no Europeu não resultou muito e se calhar já muita gente tenta dar as trivelas. Se consegue ou não, não sei. Eu consigo muito bem.
Com que sentimento parte para férias?
Agora quero limpar a cabeça do Europeu. Descansar e estar com a minha família, que é o mais importante, e pensar neles. Depois, quando voltar ao Porto, volto a pensar no futebol.
Quem é neste momento o seu ídolo?
É o meu irmão.
Mas isso já era há anos. Ainda ninguém superou a admiração que tem pelo Alfredo?
Não. O meu ídolo sempre será ele. Foi ele que me ensinou muita coisa na vida. É ele que me tem dado força para muita coisa por isso só tenho que lhe agradecer. Ele também podia ter chegado longe, mas na vida é preciso sorte e ele não teve. Não quer dizer que eu tenha mais valor do que ele¿ Sempre me transmitiu muita coisa e desde miúdo sempre me ajudou nos momentos difíceis. Quando as coisas correm bem ele raramente fala comigo, quando correm mal está lá sempre. Quando estamos nos momentos maus é que vemos quem nos quer bem e eu tenho uma grande família, por isso só quero estar com eles neste momento.
Esta foi a melhor época de sempre do Ricardo Quaresma?
Como profissional foi.
Sente-se um jogador diferente?
Sinto. Sinto-me um jogador mais de equipa, mais maduro, mais completo. Aprendi muito este ano.
Aprendeu muito com Adriaanse ou porque sentiu que esta teria de ser a sua época?
O Adriaanse foi importante porque ensinou-me muita coisa. Sobretudo tacticamente. Ensinou-me quais os momentos em que tinha que passar e em que tinha que chutar. Isto era algo que eu há um ano talvez ainda não compreendesse muito bem. Foi muito importante para mim, mas é claro que eu também me meti na cabeça que tinha que evoluir. Fico feliz comigo mesmo porque consegui fazer o que o mister Adriaanse queria e o que eu queria também, que era evoluir e ajudar o F.C. Porto. Este foi o ano em que me consegui impor numa equipa recheada de grandes jogadores e cheguei a um ponto em que me sentia titular, algo que nos outros clubes nunca senti. É importante chegar a um clube e sentir que nos dão valor, carinho e importância. É bom sentir que a equipa está sempre à espera que tu consigas resolver e possas ajudar. Talvez tenha sido isso que me deu ainda mais vontade de trabalhar mais, para ajudar mais a minha equipa. Mas só fiz uma grande época derivado ao grupo que o F.C. Porto tem, que está recheado de grandes jogadores. Do guarda-redes aos que não eram convocados, todos eram grandes jogadores.
Situações que se passaram no F.C. Porto, como os afastamentos de Jorge Costa, Hélder Postiga e Diego, ou a perda de titularidade de Vitor Baía, ajudaram-no a crescer?
Claro que vamos aprendendo coisas de ano para ano e uma das coisas que aprendi é que as pessoas esquecem rápido. Aprendi muita coisa este ano, tanto a nível profissional como pessoal, e vi muita coisa que me faz trabalhar ainda mais de dia para dia para que não me aconteça a mim. Todos conhecem o Jorge Costa e o Baía e talvez o Jorge não tenha saído da melhor forma, mas são coisas que só as pessoas da SAD e o próprio Jorge Costa podem explicar. Sempre admirei o Jorge Costa e continuo a admirar. Desde que entrei no F.C. Porto ajudou-me muito e a verdade é que o futebol é momento e nós temos que aproveitar os momentos. Quando estamos num momento mau todos esquecem o nosso valor.
A entrada de Adriaanse, proibindo o uso de acessórios, como que vos pôs em sentido?
Isso são coisas que nós só temos que respeitar. Ele não disse que fora de campo não podíamos andar com brincos, chapéus, anéis ou fosse o que fosse. Dentro do espaço de trabalho pediu-nos para tirar e só temos que respeitar isso, pois nós também não podemos jogar com anéis ou brincos. Por isso, temos de treinar como jogamos.
Essas ideias chocaram-no?
Não me chocou nada. Houve muita gente que estava à espera que eu reagisse a isso, mas eu sempre soube lidar com isso. Se não ia jogar com acessórios também não ia treinar com eles e não me custou nada tirá-los.
O que é que foi determinante neste F.C. Porto? O afastamento de jogadores?
Acho que foi a maneira do Adriaanse trabalhar e se impor. Penso que ele ganhou a cabina, ganhou o respeito dos jogadores e que isso foi o mais importante.
Ele é um disciplinador?
É uma pessoa inteligente. Sabe lidar com os jogadores, todos sabemos que cada um tem o seu feitio e uma coisa que admiro no mister é que ele sabe lidar com o feitio de cada um e colocou todos a trabalhar da mesma maneira. Conseguiu adaptar as ideias dele a cada elemento do grupo e penso que isso é o mais importante numa equipa.
1 comentário:
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