segunda-feira, 12 de julho de 2004

Reis e plebeus por JORGE MAIA

"Lou Reed costumava dizer que "depois do primeiro beijo é sempre a descer". Crescer entre a poluição de Nova Iorque, abusar de químicos inaláveis e absorver quantidades industriais de bebidas destiladas podem tornar até um abade franciscano no mais granítico dos cínicos. Ora, ainda bem que nem todos passamos por isso. Ainda bem que alguns de nós acham que depois do primeiro beijo... há mais. Imaginem se toda a gente pensasse que era melhor não dar o primeiro beijo com medo do que vem a seguir. Disparate, não é?

Vem esta lamechice a propósito de um certo discurso em torno do FC Porto e da conquista da Liga dos Campeões na última temporada. Não passaram dois meses desde Gelsenkirchen e até parece que vencer o Mónaco foi uma das piores coisas que aconteceram nos últimos anos ao bicampeão nacional. Como se, por exemplo, fosse bom Portugal ter perdido com a Grécia porque assim ainda continua a ter tudo para ganhar. É uma espécie de complexo de alpinista: quem sobe ao topo do Everest só pode descer e ainda se arrisca a perder um ou dois dedos pelo caminho. Por outro lado, numa perspectiva um bocadinho menos cínica, só quem sobe ao Everest sabe como é a vista lá de cima.

É verdade que depois de duas temporadas tão cheias de títulos como as prateleiras de uma biblioteca, o FC Porto tem mais por onde descer do que por onde continuar a subir, mas isso não significa que desça até ao sopé da montanha onde estão os ratos que ela vai parindo época atrás de época atrás de época. Para já, não se confirma o desmantelamento anunciado da equipa que ganhou tudo nos últimos dois anos. Depois, como disse alguém, é melhor ter sido rei por um dia que plebeu a vida toda.
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