quarta-feira, 4 de junho de 2008

O DESCALABRO

Aguardei serenamente até ao dia de hoje para comentar a actual realidade do nosso Clube. Se bem que já aguardada e anunciada previamente, qual delírio erótico, pela vergonhosa comunicação social portuguesa, havia que esperar para ver qual a decisão da UEFA acerca da participação, ou não, na Liga dos Campeões 2008/2009.
A decisão está aí, embora não definitiva, pelo que nos resta aguardar que se faça justiça. Por justiça entenda-se a rectificação de uma decisão que aplica rectroactivamente um regulamento, o que viola os mais elementares princípios jurídicos.
Já sabíamos que a UEFA tem vários pesos e várias medidas, consoante o peso dos Clubes. A haver coerência, porque é a primeira vez que chega a uma competição europeia após a condenação italiana, a Juventus também deveria ser excluída. O que não aconteceu. Porque será....
Independentemente de tudo isto, há várias ilações a tirar e responsabilidades a apurar.
Desde que todo este pesadelo começou, a defesa dos interesses do nosso Clube, por parte de quem de direito, roçou o nulo ou o patético. Logo desde o início que o País percebeu quem está por detrás disto. E, usando uma expressão de Miguel Sousa Tavares, sem bola a atrapalhar, fomos goleados pelos nossos rivais. Cedo se percebeu que a estratégia lisboeta passava por fragilizar o nosso Clube fora dos relvados. Só assim poderia existir algum equilíbrio. Tratou o Vieira de meter quem lhe interessava na Comissão Disciplinar da Liga, patrocinou um "livro", comprou Carolina Salgado e com isso cozinhou o que sabemos. E qual foi a nossa defesa? Nenhuma. A SAD portista deveria ter respondido em todas as frentes. Primeiro, pegando nas escutas que comprometiam Viera e Veiga e que, essas sim, sem precisarem de descodificação, eram clarinhas como água. deveriam ter enviado, tal como fez Vieira, tais escutas para a Liga, que teria obrigatoriamente que se pronunciar sobre elas. Poderiam ter-se constituído assistentes em processo crime para utilizar essas escutas. Em simultâneo, deveriam ter usado a comunicação social. Mesmo sabendo que a comunicação social em Portugal é mais fanática do que um vulgar adepto e que espezinha o código deontológico dos jornalistas. Qualquer televisão receberia Pinto da Costa sempre que este quisesse. E aí, pela repetição das escutas de Viera e, no mesmo dia em que qualquer dos processos contra si avançassem, ele estaria a comentar e a desmontar as acusações. Nada disso foi feito,o que passou a imagem de, senão de comprometimento, pelo menos de encolhimento.
No relvado, atentados ao pudor arbitrais, domingo após domingo, totalmente mitigados pela avassaladora superioridade futebolística. No entanto, fomos esbulhados na Supertaça. Ninguém comentou.
Desde que foi proferida decisão pela Comissão Disciplinar, foi um regabofe. Um autêntico festival de orgasmos da imprensa, numa actuação sem precedentes. Nunca se assistiu a tanta parcialidade jornalística, sem qualquer rigor, apenas porque os jornais tomavam a pele de adeptos. No campo, agravou-se a situação. Pese embora a fraquíssima exibição, a arbitragem na final da Taça foi uma autêntica vergonha, que passou incólume. Ninguém se revoltou, a não ser nós, os adeptos - afinal, os que mais sofremos.
Tudo isto é grave. Mas o mais grave foi o não recurso, nunca explicado, da condenação do Futebol Clube do Porto. Como aqui escrevi, a dignidade e a honra não têm preço. A condenação não tinha efeitos suspensivos, logo nem sequer havia risco de se começar a próxima época com menos 6 pontos. Mas mesmo que houvesse e fossem 20 os pontos subtraídos. A nossa história e a nossa honra exigiam a apresentação do recurso. Isso não foi feito, e não foi devidamente explicado o motivo. Assumiu-se irresponsavelmente o castigo.
Já depois disso, os abutres da comunicação social, comandados pela SAD vermelha, que a tinha bem preparada, começaram a avançar o que hoje se verificou. A nossa SAD? Muda e queda, como sempre. Entretanto, dois dos mais ilustres catedráticos de Portugal arrasam, sem piedade, a condenação de Ricardo Costa. Tais pareceres deveriam ter sido divulgados e falados até à exaustão. Não foram. Apenas os adeptos, na blogosfera, tomaram em mãos essa missão. Apenas nós, os anónimos sofredores, ao longo destes anos, fizemos a defesa.
Agora, como disse, resta-nos esperar que as instâncias superiores revoguem esta decisão, nem que seja por aspectos formais. E também que a Federação acolha os aludidos pareceres, para revogar a decisão da Liga - o que ajudaria certamente nas instâncias europeias.
Independentemente de tudo isto, há responsabilidades que têm que ser assumidas. A primeira delas, por Pinto da Costa. Se este não tivesse misturado a sua vida pessoal com a do Clube, nada disto sucedia. Se o Clube perder os dois recursos que restam e ficar mesmo arredado das competições europeias, só lhe restará resignar, juntamente com os demais membros da SAD e direcção do Clube e serem de imediato marcadas eleições. Às quais ele não se deve apresentar. Se, porventura, o Clube ganhar o recurso, penso, por tudo o que lhe devemos agradecer, que se deverá manter à frente dos nossos destinos. Isto, em termos políticos. Porque se se concretizar a suspensão, aos sócios tem que ser dito claramente o seguinte: porque é que não se recorreu do castigo inicial. Se não se recorreu porque o escritório de Advogados afirmou que tal não acarretava qualquer perigo e só tinha vantagens, então a crítica à SAD mantém-se
apenas na questão da honra que não foi defendida. Em tal situação, há que responsabilizar fortemente os advogados responsáveis. Nesse caso, contabilize-se a perda de receitas e todos os prejuízos e accione-se civilmente os causídicos. Sem hesitações. Se, por outro lado, os advogados alertaram para os perigos e a SAD não seguiu os conselhos, então exige-se a demissão de todos e a responsabilização pessoal dos seus membros. Quer pelas ditas perdas, quer por danos morais.
Uma coisa é certa. Há que apelar à união de todos os portistas neste momento. A questão do plantel ou do treinador é irrelevante. A partir de hoje vamos ser perseguidos e acossados pelos adeptos de todos os outros clubes e pela corja da comunicação social. Num ataque desenfreado sem limites. Num festim de sangue. Há que manter calma e serenidade e apoiar na mesma proporção dos ataques das hienas. Mas isto não quer dizer que nos acomodemos no apurar de responsabilidades. Sejam quem forem os responsáveis pela má condução de tudo isto, somos mais de 100 mil sócios. Temos legitimidade estatutária para agir dentro do Clube. E temos legitimidade processual para actuarmos em Tribunal. Não podemos deixar passar incólume esta nódoa, que temo, seja indelével.

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