Cópias e originais
JORGE MAIA
As duas últimas temporadas do FC Porto transformaram a face do futebol português mais ou menos como um "pealing" transforma da cara da mais afectada das tias: deixa-a irreconhecível ainda que tão feia como antes e incapaz de sorrir sem deslocar um ombro, mas mesmo assim muito mais confiante. Está assim o futebol português depois de dois anos de domínio interno e externo do FC Porto. De certa forma, a conquista da Taça UEFA e da Liga dos Campeões pelos portistas está para os restantes grandes cá do burgo assim como a proverbial cenoura está para o não menos proverbial burro: andam todos atrás dela sem a conseguir alcançar.
Não sei se repararam, mas o discurso mudou. De repente, a arrogância está na moda e já ninguém se satisfaz com pouco. Não, agora fazem-se grandes planos, quer-se tudo e mais alguma coisa, abre-se a boca até atrás e garante-se que o objectivo é ganhar a Taça UEFA ou a Liga dos Campeões. A ideia é tão simples quanto disparatada e baseia-se numa premissa que se pode enunciar mais ou menos assim: "se o FC Porto conseguiu, qualquer um pode conseguir". E então parte-se para aquela que, desde os meus tempos de escola, sempre foi a solução mais fácil, mas menos eficaz a longo prazo: copiar. Copia-se discursos e posturas, gestos e atitudes mas perde-se sempre qualquer coisa na cópia.
O facto é que a saída de José Mourinho para o futebol inglês deixou um grande vazio por preencher, mas não foi no FC Porto, foi no futebol português. E é por isso que anda meio Mundo à procura do próximo José Mourinho com o mesmo estardalhaço de quem procura talentos num programa de televisão. E é também por isso que Del Neri é uma frustração. Ao contrário de outros protagonistas recentes do nosso futebol, o italiano não quer ser o próximo José Mourinho. Quer ser o primeiro Del Neri e ser o primeiro, ser original é sempre muito mais complicado.
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