TIRAR ILAÇÕES E PENSAR O FUTURO

I - OS QUARTOS DE FINAL:

No cômputo das duas mãos, concluo que os ingleses são melhores, conclusão óbvia para
todos, face aos milhões gastos, ao nível da liga inglesa e à estabilidade de décadas. No entanto, fomos nós os melhores e cheira a alguma injustiça a nossa eliminação, face ao que fizemos em Old Trafford. Uma grande exibição, ao alcance de poucos, não foi correspondida com uma grande vitória que desse tranquilidade para o Dragão. Tal como em Madrid, quando se esperava o 2º e merecido golo, um erro individual brutal retirou-nos a vitória. Como o Manchester é muito superior ao Atlético, foi o que bastou para fazer a diferença na eliminatória. É LaPAlissiano dizer-se que a este nível não se pode falhar assim. No jogo de ontem, bastou um golo fortuito do mais arrogante jogador do mundo, que de resto não fez nada em 180m para justificar um título que todos lhe dão mas que não merece. De resto, jogaram como o Chelsea de Mourinho, encostando o autocarro sem passar grandes sobressaltos e, por isso, sem qualquer necessidade ou vontade de atacar. Eficaz dirão uns. Eu direi que sim, mas acrescentando que aquilo não é futebol que dê gosto ver. Para além de que fizeram cair o mito do fair play britânico, tal foi o antijogo e tantas as perdas de tempo.
No fundo, para além da qualidade e experiência, tiveram a estrela dos campeões, como nós tivéramos há 5 anos. Nós participámos na mais disputada e renhida eliminatória dos quartos de final, contra o campeão vigente e vendemos cara a derrota, fazendo o que pudemos e dignificando o emblema. Não estamos contentes, mas com algum orgulho por sairmos de cabeça erguida, já que vitórias morais connosco não resultam.

II - O FUTURO

Findo o sonho, o futuro imediato passa por conquistar a dobradinha. O campeonato, há que ganhá-lo o quanto antes. Depois, preparar com cabeça a próxima época, o que diga-se, já está a ser feito e bem. A aposta em jogadores jovens portugueses parece-me muito mais acertada do que as opções duvidosas do passado. O lateral Miguel Lopes é jogador com futuro, Silvestre Varela a custo zero parece-me excelente contratação para, como suplente, manter em alta velocidade o nosso ataque. O central Nuno Coelho demonstrou no último jogo detalhes muito interessantes.
No entanto, estou mais preocupado com a manutenção do plantel e da equipa técnica. Como todos sabem, sou daqueles que sempre critiquei Jesualdo e mantenho que lhe falta muita coisa para ser o treinador ideal - como aliás ontem se viu com as substituições feitas. No entanto, um mérito reconheço. Faz crescer jogadores como poucos. Basta olhar para a ascenção meteórica de Cissokho, Hulk e Fernando e a recuperação para a vida de Farias e Mariano. De resto, embora muito tarde, parece finalmente ter ultrapassado a barreira psicológica do treinador português que se acobarda sempre que vai jogar na Champions com um papão. Espero que tenha aprendido algo com os jogos com o Atlético e Manchester, por contraponto com Liverpool e Arsenal. Olhá-los nos olhos é a solução que todos os adeptos defendem desde sempre, solução que Jesualdo só viu este ano a partir dos oitavos.
Isto posto e porque conseguiu (confirmando-se a dobradinha)um performance melhor do que a do ano passado, nada mais justo do que renovar-lhe o contrato. Até porque tem que haver estabilidade no Clube. Olhando para o onze titular, vemos que há 6 jogadores novos, metade dos quais nunca tinha jogado em Portugal ou em ligas a sério. Com a idade que têm e o talento, há que fazê-los rescer mais e dar-lhes experiência. Muito naturalmente, com o mesmo treinador. Daqui a um ano, se assim for, podemos esperar uma época melhor e daqui a dois ou 3 ainda mais. A principal ilação a tirar da campanha europeia deste ano é que podemos e devemos andar sempre entre os quartos e as meias finais. Não queremos para o ano não passar da fase de grupos. Esta tem que passar a ser uma formalidade. Temos que dar luta aos tubarões e andar sempre entre as 4/8 melhores equipas. Só assim manteremos o prestígio e angariaremos o capital necessário para ir mantendo e melhorando a equipa, de forma a não termos que andar sempre a vender jogadores e a recomeçar de novo.
Já que falamos em saídas, tendo como inevitável a saída de Bruno Alves, há que colmatá-la com a entrada de um central já feito, enquanto se testa o Nuno André Coelho. Depois, certametne sairá mais um. Se dependesse de mim, seria Lucho Gonzalez e nunca Lisandro Lopez. Lucho é um jogador de classe mundial, mas este ano e o ano transacto rendeu a sério meia dúzia de jogos. O verdadeiro grande esteio do meio campo e o melhor jogador é, para mim Raul Meireles. Depois, é mais velho do que Lisandro. Este último, pela qualidade muito mais constante e pela raça, é muito mais importante para nós, até porque devemos manter e trabalhar a nossa mais valia, que é o tridente ofensivo. Vendidos estes dois, é evitar a tentação de começar já a despachar Hulks e Cissokhos e Fernandos e afins. E já agora, renovem lá com o Licha e aumentem-lhe o ordenado. É injusta a diferença salarial entre ele, o Cebola, o Lucho e o Alves. Não me digam que isso não tem afectado a prestação do matador esta época.
No fundo, todas estas linhas para defender a estabilidade do corpo técnico, do plantel e da mentalidade europeia demonstrada.