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— A vitória azul começou da maneira que todos os portistas desejavam: com um «frango» de Ricardo. Um clássico «frango» de Ricardo: saída falhada a uma bola alta na pequena área. Do alto da sua inabalável soberba, Ricardo declarou no final, sobre o golo: «Infelizmente, não se quer ver as coisas como elas são». Pois não, e ele é ainda o único que acredita que todos nós não vemos e que todos com preendemos as evidentes e gritantes razões pelas quais é ele o titular da baliza de Portugal. Tinha aqui, no Dragão, uma oportunidade única para calar os seus mais críticos. Mas, azar seu, desperdiçou-a e logo da pior maneira para alimentar essas críticas. Em lugar da humildade, preferiu, como sempre, a fuga em frente, reclamando-se de uma pretensa falta que a televisão desmente, sem piedade. Podia, depois do jogo e antes de falar, ter ido olhar para as imagens, mas preferiu continuar a chamar-nos a todos parvos. Recomendo-lhe a leitura da célebre fábula do Rei que ia nu.
— De igual modo, não salvam o Sporting, desta vez, as habituais desculpas com a arbitragem e as «coisas estranhas»: António Costa fez um jogo de um só sentido — o das cores verde e branca. De um penalty perdoado a uma expulsão perdoada, sobram-me três folhas de bloco-notas de sentido único: na dúvida, sempre e sempre a favor do Sporting.
— Mais unilateral ainda que a arbitragem de António Costa, só mesmo os comentários da SportTV, na sua habitual e infalível linha antiportista. Desta vez, aos comentários da «casa» juntaram-se os inacreditáveis comentários do sportinguista Manuel Fernandes, de todo esquecido do mínimo de isenção exigível à função que exerce. Passo por cima de todo o facciosismo demonstrado para me reter na profundidade subtil do comentário que lhe mereceu o segundo golo do FC Porto: «Animicamente, este golo foi mau para a própria equipa (do Sporting)». Pode crer. E o terceiro ainda foi pior.
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3. E, todavia, o «suspeito do costume» até teve razões de sobra para ter montado um cenário bem diferente, face à provocatória decisão do Conselho de Disciplina da FPF. O que diriam os dirigentes do Benfica ou do Sporting se, nas vésperas de ter de defrontar o FC Porto, vissem o seu treinador remetido de castigo para a bancada, por ter, num jogo da Taça, levantado os braços ao alto e exclamado, de modo a que o árbitro o ouvisse: «Isto é falta!»? Mais extraordinário ainda é que a sanha justiceira dos senhores juízes do CD, punindo um treinador com o curriculum completamente imaculado porque, à vista de todos, é um verdadeiro cavalheiro do futebol, tenha deixado passar em branco, tal como o árbitro o havia feito, as arrepiantes imagens do Bráulio a partir o nariz do Areias, numa «bicicleta» impensada e, sobretudo, as da entrada de uma violência inaudita do Flávio Meireles, só por milagre não deixando o Costinha morto no relvado. Já se sabe de há muito (e eu já o escrevi várias vezes), que o desígnio dos Conselhos de Disciplina, da Liga ou da Federação parece ser o de perseguir o FC Porto e estabelecer, sem qualquer pudor, uma dualidade de critérios, que se aplica através de uma fórmula simples: uma justiça para o FC Porto, outra para todos os outros. Mas, apesar de tudo, deveria haver limites, que parece que não há. Esta decisão do CD da FPF ultrapassou todos os limites do aceitável, denunciando-se a si própria como aquilo que é: uma paródia de justiça. Registo o silêncio alheio à volta. Mas ele só vai durar até que outrem se sinta atingido por decisão até muito menos grave do que esta. Nessa altura, claro, ninguém se irá lembrar da doutrina estabelecida pelo CD da Federação.
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4. Qual é o verdadeiro Benfica, versão 2004/05? O Benfica de consumo interno, das vitórias contra adversários menores, o Benfica líder provisório do campeonato e prometido campeão à 7.ª jornada, o Benfica dos discursos inflamados dos seus dirigentes, o Benfica que claramente apostou este ano, quase em desespero, ser campeão nacional, custe o que custar? Ou o Benfica dos jogos decisivos, dos jogos difíceis, dos palcos europeus, onde sucumbe «naturalmente» perante qualquer equipa mediana? O Benfica capaz de vencer tranquilamente um Vitória de Setúbal na Luz e proclamar aos quatro ventos que, não fosse o «sistema» e toda a gente constataria a sua evidente superioridade, ou o Benfica que paralisa de terror face a um Anderlecht ou um Estugarda? É que, por muito que isso pese aos benfiquistas, a segunda versão retira credibilidade à primeira e aos argumentos em seu favor. Não é campeão quem se proclama antecipadamente como tal, mas quem, em qualquer cenário, demonstra justificá-lo. «Quod est demonstrandum».
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5. E eis uma boa notícia para os portistas. Ou melhor, uma boa notícia teórica: a UEFA prepara-se para introduzir nas regras do jogo a penalização subsequente dos «simuladores», cujas simulações tenham enganado os árbitros durante um jogo, em termos de justificar decisões, como penalties, livres perigosos e expulsões dos adversários, que acabam por influir injustamente no desfecho do jogo e que são, para todos os efeitos, uma forma de batota. Em termos objectivos, esta é uma boa notícia para os portistas porque, há muitos anos, que não temos um «simulador», treinado para tal e utilizado até como arma secreta para resolver jogos complicados— ao contrário de alguns dos nossos rivais, que dispõem de verdadeiros artistas na matéria. Porém, e como disse, para os portistas a boa notícia é apenas teórica. É que, se ela for avante como nova lei do futebol, quem a irá aplicar, entre nós, são exactamente os Conselhos de Disciplina. E, pelo exemplo agora visto, em que o Costinha acabou castigado e o Flávio Meireles impune, corremos o risco de no futuro vermos um jogador do Porto sair do campo com um traumatismo craniano e depois ainda ser condenado como «simulador». Pensando bem, mais vale que a UEFA deixe tudo como está."
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