domingo, 13 de julho de 2014

2014/15 - A mudança de paradigma

Esta nova época traz algumas novidades. Sendo que a maior delas, quanto a mim, mais do que o treinador ou a habitual dezena de jogadores, é a mudança de paradigma que se nota no que toca às contratações e gestão do plantel.

Por partes. Depois do falhanço total da última época, era evidente que alguma coisa tinha de ser feita. E do que transparece, algo aconteceu.

1. Antero parece ter sido claramente esvaziado de poderes. Voltou a ser um mero director sob as ordens da SAD e do treinador, perdendo o posto de director-geral (mesmo que não perca o nome) e de substituto do todo-poderoso presidente.

2. O maior envolvimento do presidente novamente. Para além de dar entrevistas, parece ser evidente que o seu envolvimento com a construção do plantel é muito maior, a começar pela escolha do treinador e pelos poderes que lhe parece ter conferido - muito mais próximo de um manager inglês do que do treinador português.

3. A escolha do perfil de treinador bem diferente do habitual. Porque se era normal apostar em treinadores sem nome e para completarem a sua formação de azul e branco antes de serem vendidos, não era normal que eles tivessem caracteristicas de formador de jovens jogadores tão marcadamente como este tinha - nesse aspecto o mais próximo havia sido Jesualdo que foi contratado numa emergência mais pela experiência que detinha do que pela caracteristica formadora de ter trabalhado com as camadas jovens das selecções. Esta aposta em Lopetegui parece ser uma viragem e um assumir que a formação e os jovens jogadores (mesmo que não venham directamente da nossa formação) são a melhor aposta de futuro.

4. Os poderes que o treinador recebeu para construir o plantel parecem ser uma novidade absoluta. Até hoje apenas o presidente tratava disso, com a excepção dos últimos dois ou três anos onde parece ter sido Antero o homem de mão do presidente que montou os planteis, negociou com os empresários e escolheu os nomes de treinadores e jogadores a contratar. O poder que Lopetegui está a ter, de telefonar aos jogadores que quer para os convencer a vir, a mexer-se no mercado e a escolher e impor os nomes que quer em vez de receber os jogadores que a SAD quer é algo que, se não é novo, é quase - que me lembro apenas Robson e mais tarde Mourinho terão tido essa autorização do presidente de escolher quem queriam, mas nunca em quantidade e possibilidade como agora Lopetegui está a ter.

5. O regresso de Jorge Mendes - ou o afastamento dos empresários de segunda eleitos pelo Antero. Não sendo infalivel, é certo que Jorge Mendes representa uma carteira de jogadores quase inigualável e tem contactos preferenciais com quase todos os maiores clubes do mundo, em especial os mais endinheirados. Aliás, a transferência de Fernando por 15 milhões e, acima de tudo, a transferência iminente de Mangala por 40 milhões, devem ter muito a ver com a sua (re)aproximação ao clube, que começou com a colocação do treinador.

6. A vinda de jogadores por empréstimo, alguns sem ter sequer opção de compra, como o Oliver e de outros já com idade avançada para se valorizarem, como o Adrian. Isso significa que, apesar de a aposta de formar jogadores jovens para mais tarde os vender por valores muito altos (como foi James, como é agora Mangala) ser para manter, o treinador detetou lacunas na qualidade do plantel ao nível de algumas posições que não se compadeciam com o tempo necessário para formar esses jogadores e precisou de opções imediatas para certas posições, que lhe dessem garantias de chegar e jogar ao mais alto nível imediatamente. Isto deve significar também que a SAD deve precisar que o clube no minimo se qualifique directamente para a LCE no final da época (preferencialmente com o titulo de campeão) e que o jogo de Julho/Agosto de qualificação para a LCE desta época é fundamental para o sucesso económico imediato desta época - o que poderá estar em causa, quanto a mim, é a manutenção ou não de Jackson, que como ninguém deve avançar com a clausula de rescisão, só deverá sair se o FCP não conseguir entrar na LCE, caindo para a Liga Europa e implicando uma receita extraordinária via venda para compensar a que não entrará via receitas de TV e pontos da LCE.

7. A aposta fortíssima no mercado espanhol - boa parte dos novos jogadores da próxima época parecem vir directamente do campeonato espanhol: Oliver e Adrian já chegaram e é para serem titulares, mas poderão estar aí a chegar mais como Tello, Illarramendi, Ibrahimi (argelino a jogar em Espanha) e mais um central e um guarda-redes que poderão vir também de Espanha (se bem que se fale de um central alemão e ainda do central/defesa-esquerdo Indi da Holanda). Esta aposta é, quanto a mim, muito arriscada, pois depois do grupo de portugueses, da escola de samba e do grupo de sul-americanos que já dividia o balneário (como se via pelas fotos do Instagram de vários jogadores que só se dão maioritariamente na vida fora do clube com os respectivos compatriotas) agora ainda teremos mais um grupo de flamenco... sendo que estes espanhóis estão todos altamente conotados com o treinador e em pouco tempo corre-se o risco de estes serem os "meninos" do Lopetegui e os outros acharem que esses é que devem resolver os problemas. Quem não conhecer os egos dos jogadores, que atire a primeira pedra. Isto sem falar que, se por azar ou algum motivo, o treinador não ficar muito tempo, vamos ficar com uma quantidade enorme de jogadores conotados com este que provavelmente irão ser sacrificados pelo sucessor.

Enfim, acho que estão a criar condições para se fazer uma boa época. Mas há também ali muitos factores que podem fazer com que tudo dê para o torto. Nunca, como este ano - mais até do que o ano passado - temi de incerteza pelo que pode acontecer esta época. O FCP está obrigado a vencer - se os lampiões conseguem o 2º titulo consecutivo, vai ser um quebrar de uma rotina instalada de mais de 20 anos em que vencem um titulo isolado de vez em quando e pode lançar o nosso clube numa nova fase de lutas e guerrilhas internas porque PdC já não tem a força (ou a saúde, se preferirem) de outros tempos para estas batalhas.

Por tudo isso nunca desejei tanto como este ano ganhar o titulo. Espero que os adeptos, jogadores, técnicos e dirigentes percebam bem tudo o que está em jogo neste momento. E que esta mudança de paradigma seja positiva e um novo período de grandes vitórias para o clube - única forma de se conseguir uma transição presidencial pacifica e não destruir um trabalho de 30 anos.

Sem comentários: